quarta-feira, dezembro 31, 2008

Feliz Fim do Mundo!


Quando pequena confundia fim de ano com fim do mundo e sinceramente odiava essa data.
Talvez pelo fato de ficar observando minha mãe chorar e rir ao mesmo tempo e me abraçar quando as luzes apagavam.* Ou talvez pelo fato de não conseguir visualizar esse fim e esse começo só por causa dos números que mudavam no relógio, ora essa, e isso não acontece todos os dias? Era isso que minha sabedoria infantil concluía.
Acho que demorei para entender que a simbologia de fins e recomeços, essa coisa meio apocalíptica e ao mesmo tempo redentora.
Mas de certa forma sempre adorei as possibilidades. E acho que esse “dia branco” tem cheirinho de possibilidades.
Sendo assim, que venha 2009!

* Na minha cidade existia a tradição de se apagarem todas as luzes exatamente a meia noite durante o primeiro minuto do ano novo. Infelizmente a tradição se rendeu a modernidade e se tornou impossível causar um blecaute na cidade inteira como se fazia antes.

O Esperado Encontro


Ontem encontrei com as honoráveis colegas desta casa, brincos, batons e chupetas, lógico!
Mais um fim de ano...
Tirando o fato de que parece que todos os parentes aos quais você obrigatoriamente tem que visitar acharem que você precisa ser fartamente alimentado (que o digam meus quilinhos a mais esses últimos dias), o resto é muito bom!
Morando eu na esquina do fim do mundo, é ótimo que os amigos distantes venham visitar a terrinha... Com isso foi possível a incrível reunião de ontem.
Antes das meninas chegarem vi um grupo de senhoras em uma mesa ao lado conversando animadamente e fiquei pensando se isso não seria um flash do futuro. Não tive muito tempo de continuar nas elucubrações e Lorena chegou carregando sacolas e sorrindo. Pouco depois foi a vez da Rhafa com o Gabriel a tira colo.
E é engraçado como mesmo fazendo bastante tempo que não nos reunimos o sorriso vem com mesma facilidade, as histórias sem começo meio ou fim, nem por isso menos interessantes, pulam feito pipoca na roda de conversas...
Ainda quisemos fazer uma lista de metas para 2009, o que logicamente foi praticamente impossível diante das centenas de assuntos atrasados por tanto tempo longe... Mas não faz mal. Eu começo aqui a nossa lista, que espero sinceramente que se concretize no novo ano.
Bom, então vai ai a primeira meta da tal lista:
1) Encontrar mais as pessoas que gosto;
Adoro Vocês!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Travesseiros

Todas as manhãs observo ele acordar.

O mesmo ritual, até parece música do Chico, que fico mentalmente recitando enquanto ele me beija bem cedo sem esperar meu adeus balbuciado e me cobre novamente com o cobertor sempre acreditando que assim vai me embalar novamente no sono.

Não vou mentir que às vezes até finjo que continuo a dormir só para não estragar o sorriso dele e ganhar o já mencionado beijinho de despedida. Assim que escuto a chave girando na porta abro os olhos e encaro o travesseiro vazio dele... Sempre nos três primeiros segundos me arrependo de não ter retribuído mais devidamente a despedida matinal. Nos três seguintes fico pensando que melhor que ele me leve assim, nessa foto diária de placidez.
Levanto-me em seguida e comparo, mesmo que sem intenção, meu travesseiro ao dele. O meu completamente amassado, o dele extremamente bem arrumado, como se não houvesse repousado nada mais do que um floco de algodão e não os densos pensamentos que me sacodem a noite inteira. Ponho os pés no chão jurando para mim mesma que no dia seguinte vai ser diferente, que vou guardar para mim só a leveza do beijo que ele acabou de me dar, que vou ganhar assas e não âncoras, que vou ser embalada pelo simples e assim, retribuir com os olhos abertos e um bom dia sussurrado... Amanhã...

domingo, novembro 30, 2008

Páginas




Assisto a flor que brota destas lavouras riscadas nas terras destas páginas do pensamento, das linhas desse caderno que me servem de canteiro, das folhas pálidas e destas palavras sem raízes.
Que cultivadora pífia!

E me perco em rabiscos da mente, e como mentem! Iludem e consomem. E some! Mudem-se daqui é a ordem! Todos os frutos antes que murchem dessa morte anunciada, porque pouco do que vem de mim é vida, é o que dizem.

Fuja destas correntezas incertas, esqueça estas janelas abertas.

Parta.

Antes que eu rasgue o seu peito, e acaricie o seu arrependimento, e por fim feche silenciosamente este grito como se fosse a capa de um livro.
Desse livro da história de uma estória que não foi escrita.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Bodas de Algodão



Ontem fizemos aniversário de dois anos de casamento... Flores, jantar e tudo isso, como não poderia deixar de ser, e meu marido me pergunta qual o nome das bodas de dois anos... Se ele me perguntasse o valor do dólar, o nome do novo ministro de Obama... Mas o nome das bodas, sinceramente eu não sabia... Que vergonha!

Tem uma máxima no direito que diz que “O que não está no processo não está no mundo” (Diz-se isso para traduzir o princípio do direito que o juiz deve se ater as provas do processo, bláblá jurídico, e este não é o ponto). Pois bem, eu transmutaria essa expressão para os dias atuais da tecnologia da informação, e o que não está na internet não está no mundo! Então vamos ao velho e bom Google.

Não é que descobri que as tais bodas de dois anos de casamento chamam-se “Bodas de Algodão”. Fiquei imaginando os porquês, logicamente, e penso que deve ser pelo ânimo do casal se dando bem (algodão é macio, fofinho, agradável)... Se essa for a lógica a ser aplicada em todas as demais nomenclaturas, estou com medo de fazer aniversário de 5 anos... Bodas de Madeira ou Ferro??? Mais conhecida como Bodas do “Saco Cheio” pelo jeito... Ui!

Bom, mas este post é no fim das contas comemorativo... Enquanto não passo pelo trigo, pelas frutas até a madeira, vou rolando no algodão feliz da vida!

sexta-feira, novembro 07, 2008

Light my Fire

A imagem do fogo me atraiu hoje. Nem sei bem as razões, se é que devem existir... Fez lembrar dessa música do The Doors que eu sempre adoro escutar... Hoje foi isso que ficou:

"The time to hesitate is through"


I saw you shivering just by the thoughs,

But you should not punish your own mind.

Be true. The only thing you don't know how to be...

That's why you got lost on me,

That's why you can't stare my eyes.

I can't blame you but I should.

Bu't I can name your actions by what they really are.

If you can't light my fire,

I have to say that I can't be a liar...

Imagem: olhares.aeiou.pt

domingo, outubro 19, 2008

Roupas no Varal



Acomodava a bacia na curva da sua cintura sinuosa. Sua estrada particular. O caminho que costumava pensar que tão bem conhecia.
Uma vez ouviu dizer que o tempo é o senhor dos destinos. Achou bonito aquilo mesmo sem entender ao certo. Talvez por um certo tom misterioso . Um enigma que algum dia decifraria entre suspiros tediosos de um dia de sol igual a este enquanto crianças brincam no jardim.
Mas não tinha pressa. Nunca tinha. Até lá, seguia balançado as certezas de outro tempo. O sol estava macio e o vento lhe fazia caricias pela pele, brincando com suas saias, fazendo subir as sua narinas o cheiro da roupa recém lavada. Cheia de uma umidade amena, tal qual esses dias de transitoriedade.
Pegou a primeira peça, sacudiu deixando respingar algumas gotas sobre si, e formando um arco-íris de instantes, revelando o sempre esteve ali suspenso ao seu redor.
Uma após a outra continuava seu exercício de escolha pondo peças de uma trama aleatória lado a lado, que acenavam uma partida sem fim pela mesma brincadeira do vento, ou daquele tempo tão senhor dos destinos.
E se em algum momento esteve próxima e distante, exatamente como imagina que deve ser, aquele era o momento, enquanto estendia roupas no varal, pois a ignorância dos inocentes é o combustível da coragem.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Coleções



Sinto algo que está por vir e que antes que os olhos vejam, muito antes, já corre no sangue, e por mais que se queira aprisionar esse pássaro invisível, que me rodeia como se em uma redoma de vidro, me perco perseguindo o ar que ele moveu até então.


Não que me faltem mapas, falta-me apenas o destino.

terça-feira, agosto 26, 2008

Areia ao Vento




Entre as folhas daquele livro encontrei um pedaço de história. As digitais da sua presença exasperante nos meus parágrafos, minhas rotas de fuga. Nunca soube costurar farelos, e agora me ato a linhas.
Não sei mais dizer se o que sinto são os fluídos dessa humanidade pegajosa, o pulsar da dor ou outra antecipação ansiosa qualquer... E já nem me interessa. Só consigo enxergar meu próprio vazio, este enorme oco no meu peito devorador e devorado. 

Poderia passar o dia vagando por caminhos circulares, seguindo o norte de uma bússola viciada, ou beijar a sua boca de vício e da mesma forma estaria perdida, consumida por esse monstro medonho da minha solidão. Tenho medo que alguém o veja, que espie por alguma fresta o meu desespero descuidado. Melhor fazer as malas. Levar comigo qualquer vestígio e sair soltando pela janela letra por letra as desconstruções das suas palavras, como areia, pó... Como tempo.

quarta-feira, agosto 13, 2008

"Perdi o meu castelo e a minha princesa"


Nunca quis saber as respostas para as perguntas reais que rondavam a sua cabeça. Talvez por isso eu sempre tenha fugido da inevitável necessidade de verter em verdade os meus próprios pensamentos, minhas próprias obviedades ou as suas... Já que palavras são os tijolos desses auto-enganos que nos pomos a construir, e mesmo que em algum momento as paredes dessas realidades tenham se erguido, não foi demolindo-as que seguimos sustentando os nossos “pesos e levezas”?



E forjei como que em ferro as ilusões necessárias para fazer de você o meu escudo e a minha espada. E não foi o que fez igualmente de mim?

Se te fiz arma, é exatamente ela que me fere agora. Mas falta-me a mesma destreza, ou sobra falta de convicção para fazer o mesmo que faz a mim, ser o espelho de sempre. Um duelo de titãs que não deveria haver derrotados, mas agora tenho que usar escudo nos meus calcanhares...Penso que falhei. Ou talvez de tanto acertar, tenha destruído o que havia de genuíno, original. Negar-me para aceitar, para não destruir, e mesmo assim o fiz? E agora, o que faço dessa imensa imitação de mim mesmo que criei para protegê-la? Abrigamo-nos neste castelo de eufemismos, construído da matéria do impossível que quero crer que são paredes fortes e eternas. E nunca quis o sopro que poderia derrubar este castelo de cartas, e você só esperou o sopro do dragão...



Ao som de: Metal contra as nuvens – Legião Urbana

terça-feira, agosto 05, 2008

Abrace!




I wish this could work everytime we miss someone!

terça-feira, julho 29, 2008

O Oráculo do Chá

Estava eu preparando o meu singelo chazinho noturno de hortelã, (daqueles de pacotinho mesmo...) quando reparei (depois de anos!!!) que na etiquetinha do chá vem escrito umas frases de pensadores famosos...
Para mim ontem, e me fez muito sentido, o oráculo do chá me disse:

“Se a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz.” (Rousseau)

terça-feira, julho 15, 2008

A Chuva



"Ouvia a mesma música repetidamente.
O fim emendava-se ao começo em um ciclo perfeito. As palavras serpenteavam por dentro daquela sala, enrolavam-se entre os seus dedos e ainda assim não sabia o que dizer.
Talvez por que palavras fossem só palavras e não ardiam naquele papel como os sentimentos que lhe queimavam o peito... Ou talvez pela pura incapacidade de domá-las e alinhá-las dentro de linhas, parágrafos, que contivessem segredos, profecias, que tocassem o passado e abraçassem o futuro.
E roga...
Roga por pensamentos como chuva. Como fim e começo.
Conseguia rir e chorar nos mesmos olhos e lábios, convulsa e convencida e de todas as incertezas amontoadas no corredor.
Até que a mão dele pousou sobre o seu ombro...
Atou todos os minutos, calou todos os sons, conteve todo o pulsar e pôs-se ao seu lado. "

Thank you dear friend to be always with me.
Imagem: http://browse.deviantart.com/?q=rain&order=9&offset=48#/d1k9kih

sábado, julho 05, 2008

O Tiro


Ele fica na espreita.
Espiando pelas brechas... Nas frestas de uma fraqueza qualquer. Estreitezas forjadas por brasa quente em uma pele fina. Tramas e correntes. Artimanhas. Ardis.
Posiciona-se novamente e lembra os porquês. Para não ser levado pela correnteza e agora para ser levado por ela. Sente o peso da arma sobre o ombro direito.
Um espaço. Um raio.
É só do que precisa. Porque crê que possa crer.
É o prumo, o rumo sem setas.
Tiro.
Hesitação, alívio e medo escorrendo pela testa.
Alvo ao chão. Ele e suas metas tão estreitas, retas.
A arma fica mais leve. Os ombros mais pesados.
Um tiro e esse equilíbrio manco...
É tudo que têm.
Não há mais alvos nem arestas.
Não há pistas ou inimigos.
Respira o cheiro da solidão e da pólvora.
Só resta o peso desse vazio arrastado de fim.
Finais.
Sobra uma bala...
E um só alvo.

terça-feira, julho 01, 2008

Qui pro có


A expressão em latim quid pro quo, escrita no bom português quiprocó, tem significado de ‘isto por aquilo’, ‘toma-lá-da-cá’, ‘uma coisa por outra’.
Nem sei se este significado original se distancia tanto assim daquele ao qual se usa atualmente por aqui... Afinal, esse ‘toma-lá-dá-cá’ muitas vezes gera um verdadeiro quiprocó... Ou seja, uma confusão dos diabos, já que as pessoas estão cada vez mais viciadas a travarem suas relações pessoais na base do mercantilismo sentimental.
Não sei se eu tenho tendências menos ‘sentimentalmente capitalistas’, ou talvez eu seja uma utópica subversiva, só sei que nunca me acostumei a esse quid pro quo dos sentimentos...
- “Me dá lá meio quilo de atenção que eu te dou uma graminha de consideração!”
Aplique-se a isso juros de 5 ligações ao mês e correção monetária de uma mensagem simpática por dia de atraso e você terá uma divida de sem fim!
Eu não...
Eu gosto é de sorriso gratuito...
De abraço apertado e de saudade dolorida...
Eu gosto é da lembrança e da companhia sem pretensão...
Da atenção dos sentimentos reais.
E isso meus amigos... Dá um quiprocó... Ninguém nem imagina...

quinta-feira, junho 19, 2008

It's real.


É difícil crer que as pessoas são tão ruins quanto aparentam.

Mas são.

Regar solo imprestável, dedicar o que é bom ao estéril é nada criar.

It's real. And Hope is not a seed.


Imgem: http://browse.deviantart.com/?qh=&section=&q=hope#/dypl5q

terça-feira, maio 27, 2008

What is real?



No meio do seu silêncio escutei meu coração quebrar.
Trincando parte por parte sem cair no chão os pedaços.
Manteve-se dentro do meu peito indeciso sem saber se deveria continuar batendo desse jeito doído e descompassado.

quarta-feira, maio 14, 2008

Retalhos


Estou apaixonadíssima.
Pensei em acabar bem ai, nesse ponto final. Mas lembrei... 
Ponto.
Lembrei que você odeia minhas meias palavras, minhas reticências, esse ponto final abusado. Eu lembro de que a dúvida (ou a consciência dela) não é o seu melhor... (Desculpe, olha elas ai novamente, mas não as pude evitar!)
E sabe que acho meio patética essa coisa hiperbólica e fatal, sufocante, “íssimo”. Mas é fato. Estou apaixonadíssima e todas as vezes que me invade essa idéia ainda mais ridiculamente “íssima” me sinto talvez apaixonada o suficiente para transpor as barreiras do silêncio, que já dura o quê? Você contou? Urgência se mede por centímetros, quilos, segundos???
Não vem ao caso... O fato é que estou apaixonadíssima e amando o ponto final da primeira linha. Contente-se com ele.

terça-feira, maio 06, 2008

Busca-vida


Por favor, respondam.
De que me serve um dicionário que assim define um verbete:
Busca-vida: S.m. 1. Fateixa sem patas, cujos braços terminam em ponta, usada para rocegar objetos; garatéia.

Fateixa? Patas? Braços? Rocegar? Alguém captou? Não tem problema, vou te dar o sinônimo que vai te ajudar: garatéia.


Cumã? Juro que tentei imaginar a tal coisa e não consegui nem começar. Hômi, eu que não vou rocegar objeto nenhum com esse troço... Como costuma dizer minha mãezinha diante de coisas sem muita explicação: "- É bem capaz de ser essas surubada desse povo de internet..."
E vocês aí que gostam de internet que fiquem espertos com as fateixas sem patas por aí...

Queimando navios


Não costumo tentar entender como consigo errar tanto e por tanto tempo, mas dessa vez não ia bastar jogar o passado no abismo, era preciso me inclinar e ver se estava tudo bem morto. Explico.

O gesto aparentemente simples de abaixar-se para pegar algo que fingiu ter derrubado, deixando a blusa escorregar pelos ombros, deu-me a certeza de que eu teria aquela mulher. É claro que não pensei que levaria tanto tempo, ou que eu queimaria tantos navios numa aposta só. Logo eu, conhecedor de tantas artimanhas, tenho que admitir que com ela peguei o caminho errado.

De início, imaginando que ela fosse gostar de ter em mim um romântico admirador, lancei-me tortuoso na conquista que tinha como base uma fingida expressão de que estava muito interessado em tudo o que ela dizia. Não demorei para perceber esse primeiro engano, e passei a usar a máscara seguinte: fazendo-a pensar que depositava ali muita confiança, contava-lhe pequenas parcelas de segredos sem importância. Mas antes que pudesse colher os resultados, e decerto não os veria, surgiu a grande chance: momento de fragilidade.

Difícil não parecer covarde em valer-me dessa óbvia possibilidade, mas diante do prêmio isso deixava de ter qualquer relevância. E quando enfim começamos a perder juntos a noção da hora, não gostei de perceber olhos abertos velando meu sono calmo. É que talvez pela primeira vez eu estava diante de alguém que jogava com a segurança que só um royal straight flush nas mãos pode dar. E se blefava, seria ainda mais encantador imaginar que o fizesse tão bem.

Eu só teria mais alguns artifícios, e me perguntava se deveria usá-los para conseguir desvendar o mistério, ou se deveria permanecer intrigado aproveitando tantas boas sensações. Queria eu ter a placidez daqueles que optam pela segunda opção, mas logo me vi fazendo-a acreditar que entreguei meus olhos para ela tomar conta.

E quando ela enfim acreditou em tudo e cerrou as pálpebras para dormir me deixando ver suas cartas baixas, a luz do dia clareou meus pensamentos com a certeza de que era hora de partir dali. Não sei exatamente como eu faria para ela me mandar embora, mas isso provavelmente aconteceria quando ela percebesse que fiz todas aquelas promessas que nunca poderia cumprir.
E se me perguntassem por que destruí uma das poucas coisas que consegui viver, eu só saberia dar uma resposta tão evidente quanto decepcionante: medo.

segunda-feira, maio 05, 2008

Perspectiva


Por ter deixado para trás a minha terrinha querida, às vezes sou acometida por desejos gastronômicos de difícil concretização...
É mais do que a clássica vontade de comer feijão e tomar guaraná de quando se viaja para o exterior. Falo de algo maior, de uma saudade que não passa mesmo quando se come a tal coisa, que mais se parece com a saudade que também sentimos de iguarias importantes na infância e que não se encontra mais hoje em dia, coisas como ‘Dip n’ lick’, Drops, Surpresa, Zorro, etc.
Alguns artigos são fáceis de encontrar aqui em BsB: tapioca, carne de sol, canjica, pamonha, macaxeira cozida. Outros, quase impossíveis: queijos coalho e manteiga, arrumadinho, codorna, cachorro quente (com carne moída), canudinho (com carne moída), pastel de açúcar (com carne moída).
Aqui soa como uma aberração falar nesses três últimos com carne moída: no cachorro vai só salsicha e molho, no segundo (believe me!) vai doce de leite e o terceiro não existe por essas bandas e o pessoal acha muito estranho um pastel que por fora é de açúcar, por dentro é carne e que se comido frio também é gostoso... (Explicando assim, confesso que parece estranho mesmo, mas ô trem bom!)
Mas recentemente aconteceu comigo algo muito maior que essa saudade cotidiana. Quem viu Ratatouille vai saber do que estou falando: perspectiva.
Na cena do filme um determinado personagem come um prato que o remete imediatamente a uma cena da infância que o faz sentir saudade e nostalgia, o que logo o leva às lágrimas (e aos telespectadores mais sensíveis como a que vos fala também...).
Eu adorei a cena, mas nunca havia sentido isso até que ganhei de presente umas pipocas Karintó (aqui em Brasília só tem da doce e é de outra marca: Bokus).
Pois bem, sem imaginar os efeitos que aquelas singelas pipocas que em minha terra valem míseros centavos exerceriam sobre mim, abri logo o pacotão e tirei uma de dentro.
As primeiras pipocas ainda se desmanchavam em minha boca quando eu simplesmente comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. Foi um sentimento que me tomou tão rapidamente que nem tive tempo de me preparar para o que viria: imediatamente o cheiro e o som do intervalo das Damas (minha escola) estavam bem ali, na minha frente. Eu vi minhas amigas Polly, Rhafa, Herllange, Isabelly, Jéssica, todas de farda (uniforme) azul rindo pra mim e milhares de mãos atacando um único pacote de pipoca cujo cheiro não nos deixaria até o final da sexta aula... Eu estive lá de novo.
Naquela época, a pipoca não durava muito e custava trinta centavos. Hoje é eterna e não tem preço.
Queria que vocês pudessem sentir isso também...

sexta-feira, maio 02, 2008

Perdoáveis confusões


Quem nunca fez uma pequena confusão com ditados populares, frases feitas, palavras mais complicadas, que atire o primeiro comentário discordante...
Para atender a reiterados pedidos, registro algumas das mais preciosas frases confusas que já tive o prazer de ouvir. A maioria é de autoria de minha querida mãezinha, que, dizem as ‘mais línguas’ (essa já é uma das pérolas), roda em sistema operacional ainda desconhecido. Divirtam-se.
- A bala ficou ajaulada na cabeça do rapaz.
- Por que você não põe o carro na bengala?
- Mas é uma maria de primeira viagem mesmo!!
- Vou te contar, ele adora tirar dos ricos e dar aos pobres, só quer ser Peter Pan...
- Você vai sofrer o pão se não seguir o meu conselho...
- Eu tô quase desistindo, vou jogar o penico... (resposta pra essa: - Por favor, ou você joga a toalha ou pede penico, mas jogar o penico vai ser meio complicado...)
- Ele estava dirigindo um Ford Palio...
- Eu sei o remédio: é bergamota de potássio!
- Olha só que barbeiro, vou xingar esse cara: FUCK MY ASS!!!
- E quem ganhou o caminhão do Faustão foi: EDIVALDO DE SOUSA! Olha só, quem ganhou foi um cara de Sousa... (resposta: - Digamos que Sousa é mais comum como sobrenome do que como cidade...)
- Ele titibia, titibia e não se decide...
- Para bom entendedor duas palavras bastam...
E se eu lembrar de mais alguma não deixarei de registrar.

quarta-feira, abril 30, 2008

Aprendendo a dar desculpas...



A surpresa é melhor quando vem do lado mais inesperado. Hoje minha diarista me ensinou uma forma de discurso indireto eufemístico muito mais genial do que o tradicional ‘o gato subiu no telhado.’

Nunca a vejo, apenas chego e me deparo com a casa limpinha e organizada e aquela folhinha azul grudada no ímã da geladeira: “falta veja”. Compro o item e deixo pra ela outro bilhetinho azul: “falta limpar o filtro do ar condicionado.” E assim vamos seguindo à perfeição: na nossa relação, não falta nada...

Mas hoje me deparei com um bilhete diferente: “SUAS TAÇAS QUEBRARAM ...” Simples assim.

Percebam. Não existe forma melhor de dar a notícia. Além de tirar completamente a responsabilidade dela pelo ‘acidente’, dá um certo ar de que ela até tentou evitar, mas nada poderia ser feito diante da decisão resoluta e irreversível de minhas taças: elas queriam quebrar.

Resignada, no lugar de ficar com raiva da Fátima, reconheci sua esperteza e resolvi aprender com ela e compartilhar seus preciosos ensinamentos com a blogosfera... Os três pontinhos no final da sentença têm o papel fundamental de dar o tom de caso fortuito essencial para que ninguém mais questione a fatalidade. E pensei nas inúmeras situações em que esse discurso indireto poderia ser útil. Mais ou menos assim:

Ronaldinho e os travestis: - As prostitutas se travestiram...
Nardoni falando pra polícia: - A menina se morreu....
Dilma e o dossiê: - O dossiê se escreveu e se vazou...
Qualquer um para o chefe: - O relatório não se aprontou...
Qualquer um atrasado: - A hora se apressou....
Lula e o terceiro mandato: - A Constituição se mudou...

E por aí vai. Não é preciso muita criatividade, só cara de pau.

Bailarina

 
A caneta bamboleava entre os dedos quando decidiu subir em uma árvore...
Sairia no final do expediente e encontraria uma árvore convidativa no meio de algum canteiro solitário e a escalaria, tal qual nos tempos de criança. (Mesmo sem lembrar de haver feito isso nesse tempo, e tão pouco tem alguma reminiscência concreta de haver sido criança. Crê que nasceu de calças de pregas e sapato social...).
Talvez nunca houvesse realizado tal feito realmente, mas guardava algum tipo de sensação saudosista imaginária de um feito heróico e desafiador de limites, ao chegar ao topo de uma enorme árvore de um jardim igualmente imaginário, enquanto uma platéia invejosa espiava com o olhar esticado para lhe alcançar. E era só isso que queria: não ser alcançado.
Pensou o quanto soaria ridículo ao confessar a alguém uma decisão que parecia tão inadequada de dentro do seu nó duplo de gravata. Subir uma árvore, sem razão aparente, racional e dedutível no imposto de renda... Isso o torna tão sonhador quanto àqueles a quem devora no café da manhã todos os dias.
Tinha medo.
Porque nunca poderia desabotoar a camisa italiana, livrar-se do terno inglês e abandonar-se a um mundo sem pátria em um galho de figueira florida... E lá do alto, poderia dizer sem que ninguém ouvisse. Desse topo poderia confessar sem testemunhas a falta que lhe faz apenas não ser. 
Quer dançar a sua dança, levado por aqueles galhos, que poderiam ser seus braços, colando o corpo aquele tronco e abandonar-se por se saber achado. O colarinho não aprisiona palavras doces, nem tão pouco o esconde das paixões e desse arrebatamento que o persegue sem cessar.
Árvore bailarina, gingando no ritmo da brisa.

quinta-feira, abril 17, 2008

Brincos, batons e fraudas!


Uma coisa tem que ser admitida!
Fomos negligentes!
Ah, nem adianta careta, pezinhos nervosos batendo no chão...
Fomos negligentes sim!
Pronto!
Findo os protestos agora a explicação:
Depois do texto de 13 de maio de 2007 um longo caminho se passou e a nossa querida amiga que vinha tendo que escutar as mais diversas receitas para engravidar (E depois ela divulga a receita campeã!) engravidou e não só isso, já está com 8 meses! E esse post do Brincos foi pelo medo do pimpolho vir ao mundo sem que aqui fique registrado toda a “caduquice”das tias aqui do blog que estão doidinhas para ver o seu rostinho e só não tricotaram sapatinhos porque essa coisa de agulhas é muito complexa!
Esta tia babona em específico até já sonhou que o Gabriel já tinha nascido e que na maternidade mesmo eu o colocava no colo e lhe explicava o mundo todo! (Por favor não estou tomando nada hein!)
Detalhes da gravidez? A mamãe lê toneladas de informações úteis e inúteis e o seu livro de cabeceira agora se chama: “Bebês: Manual do Proprietário”...
Anda assistindo vídeos de partos na internet e pondo o pai do baby para aprender a dar banho, trocar fraudas...
Está com a pele ótima e tranquilíssima ao contrário de todos que a cercam que estão ansiosissímos! (E isso me inclui!)
Então fica aqui o registro (E espero que em tempo! Ainda não nasceu né? Brincadeirinha...).

segunda-feira, abril 14, 2008

Nunca fui de Câncer...


Apesar de meu (im)popular ceticismo, confesso que na adolescência li horóscopo algumas vezes. Como resistir àquela pergunta em letras garrafais: "Seu signo combina com o dele?" Começo de namoro, insegurança, ninguém escapa a uma olhadela, quem pode jogar a primeira pedra? Mas em seguida vinha a decepção, meu signo e eu nunca pegamos uma letra.... Nenhuma previsãozinha sequer, nada. E olha que às vezes eu queria acreditar...

Anos se passaram e esse assunto para mim foi se tornando cada vez mais bizarro. Algo tão estranho como videntes que prevêem o futuro através de rãzinhas amarradinhas dentro de ovo de galinha (amiga Mimi, me perdoe, mas é bizarro!). Mas como qualquer terráqueo, nunca escapei de comentários do tipo: - Nossa, tão dorminhoca, você é de libra? - Que perfeccionismo, é de capricórnio? - Tão conversadeira, tenho certeza que é de gêmeos.... Para mim, esses raciocínios seguem tanto a lógica quanto: - Hum, pinta as unhas de vermelho... aposto que gosta de sorvete de umbu...

Pois bem. Já devo ter dito que no meu trabalho faço diariamente um exercício de tolerância. No começo foi difícil, mas hoje confesso que adoro, participar por alguns minutos por dia de mundos tão diferentes do meu é quase como viajar e é de graça.... Bom, aí uma amiga que faz mapa astral ficava indignada com a minha incredulidade no mundo da astrologia e se dispôs a fazer o meu. Lá fui eu com dia, hora, minutos e local de nascimento. Ela me vem com a bombástica revelação: "- Você nunca foi de Câncer, você é leonina. Nasceu no dia de transição do signo e o sol já estava em Leão na hora que você nasceu." E ela ainda acrescentou em tom de revelação: "- Eu sempre soube que tinha algo errado..."

Gente, calma! Explico. O que define seu signo é em que casa o sol está na hora que você nasce. Aquelas datas que vemos nas revistas, segundo minha amiga astróloga, são aproximações. O que quer dizer que qualquer pessoa que nasceu no momento de transição de um signo pro outro pode a vida inteira ter lido o horóscopo alheio...
E o que isso alterou em minha vida? Well, apesar da falsa sensação de tempo perdido na adolescência (mesmo porque ler o signo certo não me daria hoje a sensação de ter feito melhor uso do meu tempo....), foi como descobrir que na minha vida passada eu gostava de plantar bananeira.

Mas, minha amiga Mimi, que acredita em entidades absolutamente incompatíveis como todo bom brasileiro católico não praticante e simpatizante do espiritismo mas que acha lindo os cultos evangélicos, resumiu o que eu deveria estar sentindo: - Meu Deus! É como descobrir na fase adulta que é filho adotivo!
Eu só sei que Câncer é água e Leão é fogo, e dessa mudança eu gostei. Pero que las hay, las hay...

Imagem: Dana - (Aparentemente, A Deusa do signo de Câncer)

quarta-feira, abril 09, 2008

Folhas de Outono

Uma agonia cansada, repetitiva.
E eu só gostaria saber o que dizer.
Porque ainda não sei.
O estômago se contorce e eu não sei.
Vago pela casa contando passos, colocando vírgulas em pensamentos e eu ainda não sei.
Perco o sono e olho pela janela outras vidinhas e não sei.
Adormeço e em sonhos brancos e não sei.

Bebo um tanto de goles de qualquer bebida amarga e apenas não sei.
Não sei por não querer. Não sei por querer.
E por saber que sei.

quinta-feira, março 06, 2008

Nas asas

                               Mudei.

Ou deveria dizer que me mudei. Entenda-se como quiser. Mero endereço ou localização geográfica ou mesmo os tijolos e paredes da minha construção. Assim resolvi voltar. Hoje fica esse texto antigo, tão antigo quanto a vontade do retorno...

“Vestiu-se de flor e pôs-se a suspirar”.


Dizer que ele tinha pernas em seu pensamento não seria descrição de plena justeza.
Ou que tinha braços se não dissesse que neles cabem todas as coisas...
Alado... E assim a carregava para tão longe que ela nem lembrava mais de voltar.
Ainda mais injusto então chamar de perdidos os olhos que se encontram mais e mais a cada pulso soluçante de seu respirar...
Ai da espera que espera! Ai do desejo que nunca finda!
Respirando transitoriedade...
E já nem sabe mais sentir aquela que se vestiu de flor.
Nuca soube dizer e deveria.
Pois só, sozinho, somente...
Era para dizer-se só.