terça-feira, março 23, 2010

Azul

INTROITO: Este é o início do projeto cruzado de escrita de contos, entre eu e o meu grande amigo Hecton. Ainda não sabemos bem se enveredaremos para o estilo de cartas ou qual será o formato, afinal, essa sinceramente não é nossa preocupação principal, sinto muito aos literatos, ou a qualquer leitor desavisado. É só a tentativa de duas mentes que de tanta pressa andam lentas por esses dias! Pois bem, exatamente pela falta de dores (e mais outras rimas ordinárias, como amores... Como diria o próprio Hecton) iremos inventar as nossas próprias, alias, melhor dizendo, as alheias, conforme os textos que vão seguir logo abaixo, e que hora e vez vão aparecer aqui no brincos.

Nunca segurei a sua mão, e agora lembro isto enquanto mergulho no mar. Primeiro vejo os pés submersos, depois os tornozelos, pernas, peito, e agora junto submergem todas as idéias. Pouco a pouco sumindo, em um mundo paralelo.
Vejo só azul neste universo, e inexplicavelmente isto me acalma, como imagino que serenaria a ausência completa ou a presença absoluta. Quanto ultrapassa, quanto transborda? Pensei não haver limites nem medidas a quê nos submetêssemos nesse mar inverso, revesso. Trocando e girando sentidos e realidades nas ondas que me levam do fim ao começo. Tente. Ainda sabe encontrar?
Ainda traço as mesmas linhas, com as mãos miúdas que lhe faziam rir, tentando tão aplicadamente reter o tempo. Mais um mergulho e sinto o peso da água escorrendo pelos meus cabelos, escutando a respiração e o silêncio. Continuo a dança. Observando o ritmo das ondas e as ondas deste pensamento, indo e voltando na mesma constância tirânica.
Comecei sem saber o que dizer, mas sabendo que o deveria. Se pudesse inventaria a habilidade de entender o que nem sequer soube reduzir em idéia. Talvez pela certeza de que a única coisa que deveria lhe falar não se pronuncia. Soma uma complexidade que nunca poderemos traduzir, ou que simplesmente pelo mesmo motivo sequer existe. E ainda assim, eu só sinto falta de segurar a sua mão invisível e mergulhar mais uma vez no seu azul.
* * *
Bem, até ontem eu entendia o que aquelas palavras diziam sobre o inconsciente, ao menos acreditava que entendia. Naquelas linhas que insisti em escrever, pouco restou de algo que se possa compreender, talvez a palidez que sua face que se mostrava pudesse presumir que o óbvio desse um salto à minha frente, mostrando o que estava além das sombras.
Tive medo, confesso. Talvez me faltasse à ousadia que eu tinha de sobra pra coisas que não me engrandecia como você me faz. Minha mente insiste em criar momentos que só existiram nela e com uma realidade que me transporta pro seu mundo, aquele mundo que se define mil sensações com uma única palavra. Sensações, talvez esses impulsos químicos que me faziam apegar no seu olhar, e me fazia transpor barreiras até mais que o seu universo, com seu azul celeste.
Poupo-me de usar aspas para palavras que realmente quero lhe dizer, e sei que no fundo há multiuniversos que se colidem criando as sensações que disse logo acima, ou talvez seja apenas mais um dos momentos que minha mente cria na ânsia de poder respirar fundo e não sentir todo o peso do mundo por alguns instantes e dizer que tudo está bem e ficará sempre bem.
Acordei logo em seguida, suspirei fundo e vi que a lua estava nos seus últimos minutos de brilho, pude saber neste instante que o meu dia podia ser diferente, e que planetas ou sistemas inteiros não precisavam colidirem para criar as sensações, bastava olhar pra você.

Imagem: http://www.thegiant.org/wiki/index.php/Dolk
Sobre a imagem: Chama-se "Granade Lovers". On March 3, 2009, Morten Landmark of HMP announced that the print edition of "Grenade Lovers" would be released during the week of March 8, 2009. Morten Landmark stated that "Grenande Lovers" is a 50x70cm print signed and numbered in an edition of 150 pieces printed on Conqueror Connoisseur Soft White 300gsm paper.