terça-feira, abril 08, 2014

Drip... Drip... Drip...



    Tento pensar por onde começar para refazer o mesmo caminho, e não sei onde por os pés. É como andar olhando por um retrovisor e depois engatar a marcha ré. Sinto que cada vestígio se esvai sem que eu possa reter. E tento voltar, catar cada migalha de você que ainda tenho em mim para ficar em paz com o que não foi.

 
Não creio em lembranças nem em suspiros. Assim como nunca acreditei em viver esse tempo atrasado e demorado, que se afoga premeditadamente em ponteiros arrastados, viciados em ouvir tua voz.

E passo os minutos olhando o teto e aquela goteira velha que pinga no balde azul que tento tão esmeradamente posicionar no chão, mirando suas recordações infiltradas, aquelas as quais nego e que se repetem ritmadamente.

Sei que não seria eu que deveria falar de amor, muito menos de destino, se tirei das mãos do acaso o caso de nós dois quanto te disse e quando calei. Não deveria acreditar  em senões nem em promessas de copo de vinho.

Estou atado na minha teimosia,  preso na insistência do fracasso de um quase amor só por não saber ser só, só por não saber ser eu sem você. Só sei dizer que vai chover e que aquela goteira ainda vai continuar a pingar. Sei dizer onde estão teus sapatos e as chaves do carro, mas não onde escondeu essa felicidade toda que agora me assalta e me assombra.

Já quis pintar as paredes da sala, e quis dizer adeus. Mas lembro do teu dia azul e do teu cheiro amargo e só consigo voltar. Só posso rodar e rodar e parar no mesmo ponto onde pedi para não ir, e pedi para não dizer. E depois para você vir. Mas aporta não se abriu, e só aquele vento sul entrou pela janela, sacodiu a toalha da mesa  e se foi, carregando uma gota para fora do balde e um pensamento cheio de você para fora da minha boca.