domingo, outubro 19, 2008

Roupas no Varal



Acomodava a bacia na curva da sua cintura sinuosa. Sua estrada particular. O caminho que costumava pensar que tão bem conhecia.
Uma vez ouviu dizer que o tempo é o senhor dos destinos. Achou bonito aquilo mesmo sem entender ao certo. Talvez por um certo tom misterioso . Um enigma que algum dia decifraria entre suspiros tediosos de um dia de sol igual a este enquanto crianças brincam no jardim.
Mas não tinha pressa. Nunca tinha. Até lá, seguia balançado as certezas de outro tempo. O sol estava macio e o vento lhe fazia caricias pela pele, brincando com suas saias, fazendo subir as sua narinas o cheiro da roupa recém lavada. Cheia de uma umidade amena, tal qual esses dias de transitoriedade.
Pegou a primeira peça, sacudiu deixando respingar algumas gotas sobre si, e formando um arco-íris de instantes, revelando o sempre esteve ali suspenso ao seu redor.
Uma após a outra continuava seu exercício de escolha pondo peças de uma trama aleatória lado a lado, que acenavam uma partida sem fim pela mesma brincadeira do vento, ou daquele tempo tão senhor dos destinos.
E se em algum momento esteve próxima e distante, exatamente como imagina que deve ser, aquele era o momento, enquanto estendia roupas no varal, pois a ignorância dos inocentes é o combustível da coragem.