quarta-feira, outubro 30, 2013

Coisas Miúdas




Sei... Realmente faz bastante tempo.
Mas tempo necessário. Estava cuidando do essencial! Vida!

Esse texto estava dormindo na gaveta, junto com um monte de coisas miúdas que não sabia onde colocar...

Não sei mais o que fazer com estas tuas coisas miúdas enchendo meus bolsos.
Brincos, batom, palavras rasgadas, amor pesado, paixão leve e conta de luz.
Tiro e reviro. Puxo e logo em seguida mais me aparece...
Chave "de-não-sei-qual-porta", promessas macias, teu perfume e cartão de visitas.
Obstinado continuo inventariando miudezas...
Papéis amarrotados, beijo terno e tampa da caneta.
Bolsos cheios, dúvidas multiplicadas e continuo sem saber...
Fotografia borrada, pétala de flor e bom dia.
O que faço das tuas coisas miúdas? O que faço deste meu desejo de me afogar nas promessas dos teus olhos pequenos. Quanto mais tento entender esse lógica mais perdido fico em “senão” e justificativas torcidas só para lhe agradar. Preso neste lado de dentro dos teus pensamentos, dos teus abraços infinitos, ainda assim não sei o que faço das tuas coisas miúdas.
Não sei se guardo ou se me enrosco nas fitas que usa nos cabelos, pelo simples fato de adorar deslizar o dedo indicador por sua nuca acompanhando a linha desenhada pelos finos pelinhos que lhe descem pelas costas...
Fico neste roer de unhas  esperando que me caia no colo como dádiva a resposta do que fazer destas tuas palavras absurdas que me fazem consumir em desejo. Dedico músicas e sorrisos nas poucas horas lúcidas e ponho-me de pé e distante na loucura. Quero mais é ficar de mãos cheias de teus versos melancólicos e das rendas das tuas saias!
E se ainda tenho fé em algo, rogo: “Valei-me Senhor dos desesperados! Porque não sei mais o que fazer destas coisas miúdas e desta paixão imensa!"
Eu quero abrir a porta certa, sussurrar todas as promessas que quiser ouvir. 
Quero é que me dedique todas as palavras rasgadas,  e que me cubra com beijos de batom.
Quero que seja meu o amor pesado e a minha paixão leve. Quero mais é desenhar seu corpo, despir-lhe de brincos e de "bom dia".
Eu quero é estar na fotografia junto com seu sorriso. Quero me impregnar do seu perfume e deixar de ser eu parte das tuas coisas miúdas.

sexta-feira, janeiro 18, 2013

O Palco

O texto rondava fazia um tempinho, mas agora ai está! 
Creio que vai demorar um tantinho para uma próxima postagem por dois lindos motivos superiores que estão para chegar, mas hora ou outra estarei por aqui novamente...





De alguns fatos não há como se esconder, por mais vergonhosos que sejam. Eu sempre quis saber cantar. Sem muitas justificativas, ou longos discursos sobre expressão artística ou da alma. O máximo que consegui foi a conveniência de uma mudez infame.



Para aumentar a humilhação, com o tempo, adquiri técnicas para ocultar-me no acanhamento e apropriava-me da voz alheia aprisionando-a na minha boca vazia enquanto a melodia ajudava o embuste mudo do meu canto inexistente. Dublagem de voz e sentimentos. Nada mais apropriado!



Acho que por isso odeio tanto você, despindo-me da minha farsa perfeita, me fez imaginar palcos, e até imaginei cantar no seu ouvido enquanto você ouvia e sorria. Imaginei que gostaria de ver-me envolta em compassos, que amaria tudo o que escorreria dos meus refrãos, não como verdades ou juras, mas como a imagem das possibilidades que nunca realizaríamos. Como eu o odeio!



Não sei se para me afrontar, você sim cantava e eu gostava de ouvir. E eu ficava intrigada tentando encontrar explicação para perfeição. Os sons não saiam apenas dos lábios, mas também daqueles olhos disfarçados de boca que confessavam, mas nunca me diziam. Você cantava e eu emudecia.  Como parte da crueldade, amava vê-lo cantar, me tornando a mais miserável das criaturas.



E eu, apenas me afogava em palavras que nunca ganhariam pernas enquanto ele todo prazeres! Boca, peito, palavras e juras! Gostaria de escrever as rimas de uma paixão certa e concreta, cheias de detalhes e toques, cheios desse você que tanto detesto!



E muda deveria ter me mantido. Mas ao invés de me recolher no canto escuro da minha raiva de vê-lo desenhando em acordes, agarro-me ao microfone na certeza de que terei a voz e cantarei. 



Mesmo assim, só me resta o silêncio!

---x---x---x

Já não se escrevem mais cartas como antes. Tão pouco canções que brotem da caneta imaginária de um poeta sofrido.  Mas ela guarda letras embaixo do colchão. Esconde cartas amarrotadas que nunca serão enviadas. Criatura de outro tempo esta! Não pertence ao passado e assombra o presente. E se assim pode ser dito, só se constrói inteira em um futuro que imagina em diversos finais, montados e remontados, se deliciando com as possibilidades.



O calor dos holofotes faziam suar a testa. Minúsculas gotículas brotando pela pele. Disfarçadamente limpava o suor com as costas da mão direita enquanto sorria angustiada, procurando a primeira saída, a fuga perfeita. Mas encurralada que estava em seu próprio orgulho, balançava-se sobre os próprios pés, dentro de seus saltos vermelhos de camurça. 



Vestia-se de sua personagem indefectível de si mesma e agarrava o microfone, se deixando penetrar pela dor de um sentimento anunciado pelo primeiro acorde que ressoava. Quem assistia este segundo entre aqueles olhos fechados e a primeira nota, prendia a respiração em suspense exultante, em espera atenta, quase em um estado de paixão. 



E só assim, devorado, as mãos inquietas, torcendo os dedos em infindável anseio pelo segundo seguinte, tirano e consumista insaciável,  porque o presente nunca basta em si. Odiava a ousadia desafiadora, entregue a própria voz.



Embalada em notas e sonhos de outro tempo, cobre-me com poesia e desejos. Fecha os olhos enquanto canta, mas se sente incapaz de o fazer enquanto beija. Engulo o ódio que me dedica, e o amor que me recusa, junto com as palavras e notas.