sábado, julho 05, 2008

O Tiro


Ele fica na espreita.
Espiando pelas brechas... Nas frestas de uma fraqueza qualquer. Estreitezas forjadas por brasa quente em uma pele fina. Tramas e correntes. Artimanhas. Ardis.
Posiciona-se novamente e lembra os porquês. Para não ser levado pela correnteza e agora para ser levado por ela. Sente o peso da arma sobre o ombro direito.
Um espaço. Um raio.
É só do que precisa. Porque crê que possa crer.
É o prumo, o rumo sem setas.
Tiro.
Hesitação, alívio e medo escorrendo pela testa.
Alvo ao chão. Ele e suas metas tão estreitas, retas.
A arma fica mais leve. Os ombros mais pesados.
Um tiro e esse equilíbrio manco...
É tudo que têm.
Não há mais alvos nem arestas.
Não há pistas ou inimigos.
Respira o cheiro da solidão e da pólvora.
Só resta o peso desse vazio arrastado de fim.
Finais.
Sobra uma bala...
E um só alvo.

3 comentários:

Lorena Dani disse...

Meio prosa, meio poema. Nada de meias palavras. Palavras que soam como tiros na alma... Beijos

Anônimo disse...

"viver é muito perigoso...querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. esses homens! todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. mas um só vê e entende as coisas dum seu modo." (joão guimarães rosa)

Polly Barros disse...

O blog tá lindo, a escrita afiada...
Direta, precisa, quase documental... cortante!

Beijo
=*