segunda-feira, maio 05, 2008

Perspectiva


Por ter deixado para trás a minha terrinha querida, às vezes sou acometida por desejos gastronômicos de difícil concretização...
É mais do que a clássica vontade de comer feijão e tomar guaraná de quando se viaja para o exterior. Falo de algo maior, de uma saudade que não passa mesmo quando se come a tal coisa, que mais se parece com a saudade que também sentimos de iguarias importantes na infância e que não se encontra mais hoje em dia, coisas como ‘Dip n’ lick’, Drops, Surpresa, Zorro, etc.
Alguns artigos são fáceis de encontrar aqui em BsB: tapioca, carne de sol, canjica, pamonha, macaxeira cozida. Outros, quase impossíveis: queijos coalho e manteiga, arrumadinho, codorna, cachorro quente (com carne moída), canudinho (com carne moída), pastel de açúcar (com carne moída).
Aqui soa como uma aberração falar nesses três últimos com carne moída: no cachorro vai só salsicha e molho, no segundo (believe me!) vai doce de leite e o terceiro não existe por essas bandas e o pessoal acha muito estranho um pastel que por fora é de açúcar, por dentro é carne e que se comido frio também é gostoso... (Explicando assim, confesso que parece estranho mesmo, mas ô trem bom!)
Mas recentemente aconteceu comigo algo muito maior que essa saudade cotidiana. Quem viu Ratatouille vai saber do que estou falando: perspectiva.
Na cena do filme um determinado personagem come um prato que o remete imediatamente a uma cena da infância que o faz sentir saudade e nostalgia, o que logo o leva às lágrimas (e aos telespectadores mais sensíveis como a que vos fala também...).
Eu adorei a cena, mas nunca havia sentido isso até que ganhei de presente umas pipocas Karintó (aqui em Brasília só tem da doce e é de outra marca: Bokus).
Pois bem, sem imaginar os efeitos que aquelas singelas pipocas que em minha terra valem míseros centavos exerceriam sobre mim, abri logo o pacotão e tirei uma de dentro.
As primeiras pipocas ainda se desmanchavam em minha boca quando eu simplesmente comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. Foi um sentimento que me tomou tão rapidamente que nem tive tempo de me preparar para o que viria: imediatamente o cheiro e o som do intervalo das Damas (minha escola) estavam bem ali, na minha frente. Eu vi minhas amigas Polly, Rhafa, Herllange, Isabelly, Jéssica, todas de farda (uniforme) azul rindo pra mim e milhares de mãos atacando um único pacote de pipoca cujo cheiro não nos deixaria até o final da sexta aula... Eu estive lá de novo.
Naquela época, a pipoca não durava muito e custava trinta centavos. Hoje é eterna e não tem preço.
Queria que vocês pudessem sentir isso também...

5 comentários:

Anônimo disse...

Eterna? Eu trouxe duas dúzias de pipoca, e não duraram nem uma semana!

Pollyana disse...

Assim minha fama de choronha vai atravessar os limites estaduais!
:D
Adorei a lembrança! Deu para sentir o cheiro tb...

Rhafa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rhafa disse...

Menina! Só hoje, por acaso, tive tempo de me inteirar do Blog, afinal vcs sabem, último mês de gravidez... Bebê em casa...
E esse texto em especial chamou minha atenção, simplesmente por que nos últimos dias estou meio que fazendo uma retrospectiva de minha vida, e sobre como um filho muda a vida da gente.
Senti o cheiro e o gosto, e chorei, simplesmente porque é bom lembrar daquilo que vivemos e que nos trouxe aonde estamos.
Beijos e saudades...

Unknown disse...

Que lindo Lorena!
Tenho que confessar que existe uma musica do Roberto Carlos que me desperta o mesmo sentimento :-)
E' uma de um caminhoneiro, que me remete imediatamente `as longas viagens de carro que faziamos em familia. Me vem um sentimento de nostalgia irresistivel toda vez que escuto a musica.