
A surpresa é melhor quando vem do lado mais inesperado. Hoje minha diarista me ensinou uma forma de discurso indireto eufemístico muito mais genial do que o tradicional ‘o gato subiu no telhado.’
Nunca a vejo, apenas chego e me deparo com a casa limpinha e organizada e aquela folhinha azul grudada no ímã da geladeira: “falta veja”. Compro o item e deixo pra ela outro bilhetinho azul: “falta limpar o filtro do ar condicionado.” E assim vamos seguindo à perfeição: na nossa relação, não falta nada...
Mas hoje me deparei com um bilhete diferente: “SUAS TAÇAS QUEBRARAM ...” Simples assim.
Percebam. Não existe forma melhor de dar a notícia. Além de tirar completamente a responsabilidade dela pelo ‘acidente’, dá um certo ar de que ela até tentou evitar, mas nada poderia ser feito diante da decisão resoluta e irreversível de minhas taças: elas queriam quebrar.
Resignada, no lugar de ficar com raiva da Fátima, reconheci sua esperteza e resolvi aprender com ela e compartilhar seus preciosos ensinamentos com a blogosfera... Os três pontinhos no final da sentença têm o papel fundamental de dar o tom de caso fortuito essencial para que ninguém mais questione a fatalidade. E pensei nas inúmeras situações em que esse discurso indireto poderia ser útil. Mais ou menos assim:
Ronaldinho e os travestis: - As prostitutas se travestiram...
Nardoni falando pra polícia: - A menina se morreu....
Dilma e o dossiê: - O dossiê se escreveu e se vazou...
Qualquer um para o chefe: - O relatório não se aprontou...
Qualquer um atrasado: - A hora se apressou....
Lula e o terceiro mandato: - A Constituição se mudou...
E por aí vai. Não é preciso muita criatividade, só cara de pau.