quinta-feira, maio 10, 2007

A hard day night



Hoje já assisti aula de professor gago às sete da madrugada, no festejado intervalo me deparei com a máquina de café quebrada, enchi balão de festa, resolvi abacaxis indissolúveis para o meu chefe (até porque se fosse solúvel ele não o teria deixado para mim, fazer o quê, ganho pra isso...), uma pessoa que eu sempre malhei me contou a vida penosa que teve e me deixou com uma obesa consciência (do tipo: o acidente foi muito traumático; meus pais dividiam uma quentinha no almoço; nunca ganhei ovo de páscoa, entre outras infernalidades...)

Aí se imagina, o que o mundo me deu em troca? Uma noite na minha tranqüila piscina aquecida olhando o céu candango limpo e estrelado, massagem nos pés, louça lavada, relaxante muscular e chandon? Convenhamos, utilitarismo, as forças estariam sendo minimamente justas. Mas, não preciso nem elencar Murphy, outras dezoito leis de azar e mais esse texto para dizer que não, não foi assim que se sucedeu. Afinal, todo mundo sabe, coisa boa não se sai contando por aí.

Sem mais, vamos à celeuma que me impele a este retorno após longo entrave à escrita. Para isso, preciso falar um pouco sobre a Lu. Ela era minha colega de trabalho que se tornou grandessíssima amiga após enfrentarmos juntas monstruosos advogados sedentos por sentenças e liminares, sermos expulsas de sorveteria por estar na hora de fechar, guardarmos segredos de gente grande, ligarmos uma pra outra pra dar a notícia urgente: 50% off na Zara! Enfim, mui amigas.

Ela, balzaquiana casada há cerca de sete anos e muito decidida desde o altar de que não teria rebentos, tem um defeito para minha opinião cética: acredita em astrologia e consulta videntes por telefone. Final do ano passado ela me vem com essa: - Ano que vem vou ficar grávida, o vidente falou.

Maio de 2007, prazo suficiente para a profecia se concretizar e lá vem ela chorando com um papel na mão: Tô grávida! (Essa sim, real, Sra. P.G.!) Deve ser instinto reagir a isso com gritinhos, pulinhos e lágrimas, por óbvio, foi o que fiz. Em seguida, pensei: relaxar completamente com o contraceptivo pode receber a condescendência do nome auto-sugestão? Curioso ou não, a coisinha de dois centímetros está lá, dentro da barriga da minha amiga moderna que eu nunca pensei que seria mãe.

Certamente ela será uma grávida legal, sem aquele papo todo de peito rachado, parto humanizado, macaquinhos Yoga para gestantes, etc, foi o que pensei secundariamente. E o que isso tem a ver com a recompensa que o mundo me deu para esse meu dia? Já conto.

Uma voz ansiosa no telefone: tenho uma coisa para te mostrar, pode ser hoje à noite? Chego lá e não creio, quilômetros e quilômetros para ver a foto do bebê, leia-se ecografia toda preta em que a parte que ela acha ser a cabeça do montinho de células pode vir a ser qualquer outra coisa. E o mais terrível é que sei, contando com minha racionalidade paraguaia, que vou olhar pro filhinho dela e repetir devagar: Repete, bebê, ti-ti-a, ti-ti-a. Não tem jeito, é fatal, alguém aí sabe como escapar do instinto de preservação da espécie?

2 comentários:

Pollyana disse...

Não creio que por influência da visita do Papa ao Brasil, mas...
O filho pródigo volta a sua casa! Que frase mais clichê! Mas só para expressar as boas vindas, comemorar a ida (viagem), a etapa (Tan tan taran, tan tan tarm) e felicidade de recontrar a amiga!
Bjs
Adorei o texto

Rhafa disse...

Bem amiga, que bom que vc está de volta...
Mas quanto a sua pergunta...
Acho complicado essa coisa de escapar do instinto de preservação da espécie, então minha solução é relaxar e conseguir ser a mãe (ou ti-ti-a) mais moderna possível.
Bjs