sexta-feira, setembro 15, 2006

Tão só palavras


Tinha a nítida impressão que a vida inteira só havia habitado poucos cômodos da vida dele. Talvez somente a sala de estar. Por mais que mergulhasse nunca chegava ao fim, um pântano, nada mais que isso.
Mas mesmo assim guardava aquele papel como uma jóia, preciosidade raríssima. Não se sentia preparada para deixá-lo ir. Nem ao papel nem a densa presença dele em seu pensamento. Já havia decorado todas as frases. Lia e relia em várias entonações. Doces, ligeiras, tocantes, arranhadas, urgentes... E independentemente da versão escolhida sua pele eriçava-se toda ao mero entreabrir daquela folha e até ao ser surpreendida pela memória que lhe assaltava daquelas palavras.

Por vezes se premiava em um dia de sol saboreando cada trecho bem devagar. Em outras, punia-se por se permitir tais vicissitudes. Tinha recaídas. Mas eram às palavras a que ela se dedicava. Dele não tinha hoje mais do que superfície, semi-verdade...

Abriu cuidadosamente as duas dobraduras do papel gasto e reabasteceu-se por hoje. Ao menos por hoje... Dobrou-o novamente, apertou-o contra e o peito e até teve vontade de cheirá-lo de tão caro que o era. Não o fez desta vez... O mantém preso àquele pedaço de papel. Congelado no exato momento em que ela não era tão só, e só palavras.

3 comentários:

Caeles disse...

oi...
:)
Vcs estão mudando a linha do Blog é??? Eu parei um pouco de escrever, pra falar a verdade, n consigo escrver....
:(
Como vcs estão!
Ah, felicidades à noiva!
cammyle@operamail.com

Anônimo disse...

Pollyana, essa é pra agradecer, depois de um dia choco como o meu de hoje, o seu texto salvou o dia! um beijo, Érika

Pollyana disse...

ô Érika! Fiquei tão feliz com seu comentário!Obrigada mesmo!
Bjs!