Vi um sorriso jovem de incertezas
e achei tão triste. E em pensar que antes acharia de uma beleza ímpar. Para mim
se mostrava como o espelho de uma imagem que envelheceu pela previsibilidade.
Por saber por onde andará, e o que passará.
E posso dizer que amava a forma
como acreditava em mim mesma e nas ideias. E amava ter certezas catalogáveis,
assim como era lisonjeiro ter lado, partidos e time de futebol. Em como o
futuro parecia que tinha o gosto da primeira mordida da maçã, e eu nem era a Eva.
E poderia até suspirar agora mesmo, imprimindo toda a veracidade dos
sentimentos talhados na carne, olhando para esse infinito de memórias
fabricadas, e estou certa que acreditaria sem piscar nessa nostalgia inversa.
Acreditava que ideias, genuínas
existiam, por mais incoerente que isso possa parecer. A contradição era charme,
a dúvida brilhava na decoração da minha personalidade feito diamante e disso eu
lembro.
Hoje vejo tudo como uma fumaça
incomoda. Uma fumaça de um charuto de quinta fumado por um velho que não
ultrapassa em pensamentos nem sequer meio centímetro de meio-fio. Vida rasa.
Penso, e logo existo, creio ser um alívio ao menos isso. Mas devo ter essa
mesma imagem embaçada com a qual penso, e com a qual sou pensada. Não são os
anos que me pesam sobre o rosto. Ainda não. Mas a falta de brilho das ilusões.
Odeio reconhecer. Podem até me sobrar lindas pernas para exibir, assim como
antes eu exibia minha incoerente perspicácia.
Naquele tempo, e assim até parece quem se passaram anos e não segundos,
a incoerência era muito mais sedutora. Antes tudo tinha um sentido latente ao
qual buscávamos. Hoje o sentido é só ausente, simples assim.
Só mesmo acreditando em lindas estórias
eternas. Só mesmo acreditando que todos os atos atuais desencadearão um futuro.
Uma recompensa. Vivemos feito cachorros enganados com um osso no distante fim
muito mal visualizável. Certamente isso
não é história que se conte para criancinhas. Assim ninguém vai para escola.
Assim ninguém vai querer saber o PIB mundial.
Essas são as histórias de “mal assombro” que uma pequena corja de
covardes conhece. Creio que eu estou entre eles. Estes que permitem que o mundo
vá andando, como um trem nos seus trilhos, subindo e descendo montanhas, como
se houvesse um destino e um lugar aonde chegar, tudo segue o seu curso e seu
caminhar. E que o fazem sem alarde só pela falta que iria fazer essa paisagem
plácida que eu assisto com destino a nenhum lugar. Só por este balançar que
nina os pensamentos convulsos dessa mesma corja insana. Só porque a poesia
dessa beleza é assim, essencialmente ignorante, e assim mesmo deve ficar.
Penso se serei punida pelo sim - conheço
todas as perguntas e não as nego - e ao mesmo tempo pelo não - conheço todas as
respostas e as deveria esquecer. Penso se estou no meio de um caminho. Mas logo
em seguida me debruço sobre a minha falta de método, pois em tal hipótese já
vejo a impossibilidade de existir posição incoerente assim. Meio quando não há
nem início nem fim?
Eu já quis Buda, Maomé e Oxalá
que alguma coisa assim, e todas elas ao mesmo tempo girem, girem e conheçam em
mim o que há de essencial e revigorante, o que há de honesto e ignorante, o que
há de dormente e exultante, mas que de mim conheçam, que de mim sintam, que de
mim vejam o que eu não vejo, o que eu não sinto e o que eu não conheço. Ou talvez nenhum deles. Ou talvez o sentido
mais ínfimo, o mais ignóbil e honesto, o mais tátil e palpável, o mais frágil e
desconexo, o amor que há ou que deveria haver, que eu deveria conhecer e
cultivar, que eu deveria ter e saber dar, o amor que eu queria ver e criar. Mas
nunca foi nem haverá.
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