segunda-feira, dezembro 15, 2008

Travesseiros

Todas as manhãs observo ele acordar.

O mesmo ritual, até parece música do Chico, que fico mentalmente recitando enquanto ele me beija bem cedo sem esperar meu adeus balbuciado e me cobre novamente com o cobertor sempre acreditando que assim vai me embalar novamente no sono.

Não vou mentir que às vezes até finjo que continuo a dormir só para não estragar o sorriso dele e ganhar o já mencionado beijinho de despedida. Assim que escuto a chave girando na porta abro os olhos e encaro o travesseiro vazio dele... Sempre nos três primeiros segundos me arrependo de não ter retribuído mais devidamente a despedida matinal. Nos três seguintes fico pensando que melhor que ele me leve assim, nessa foto diária de placidez.
Levanto-me em seguida e comparo, mesmo que sem intenção, meu travesseiro ao dele. O meu completamente amassado, o dele extremamente bem arrumado, como se não houvesse repousado nada mais do que um floco de algodão e não os densos pensamentos que me sacodem a noite inteira. Ponho os pés no chão jurando para mim mesma que no dia seguinte vai ser diferente, que vou guardar para mim só a leveza do beijo que ele acabou de me dar, que vou ganhar assas e não âncoras, que vou ser embalada pelo simples e assim, retribuir com os olhos abertos e um bom dia sussurrado... Amanhã...

Um comentário:

Ananda Sampaio disse...

lindo!
adorei!
=*