Por ter deixado para trás a minha terrinha querida, às vezes sou acometida por desejos gastronômicos de difícil concretização...
É mais do que a clássica vontade de comer feijão e tomar guaraná de quando se viaja para o exterior. Falo de algo maior, de uma saudade que não passa mesmo quando se come a tal coisa, que mais se parece com a saudade que também sentimos de iguarias importantes na infância e que não se encontra mais hoje em dia, coisas como ‘Dip n’ lick’, Drops, Surpresa, Zorro, etc.
Alguns artigos são fáceis de encontrar aqui em BsB: tapioca, carne de sol, canjica, pamonha, macaxeira cozida. Outros, quase impossíveis: queijos coalho e manteiga, arrumadinho, codorna, cachorro quente (com carne moída), canudinho (com carne moída), pastel de açúcar (com carne moída).
Aqui soa como uma aberração falar nesses três últimos com carne moída: no cachorro vai só salsicha e molho, no segundo (believe me!) vai doce de leite e o terceiro não existe por essas bandas e o pessoal acha muito estranho um pastel que por fora é de açúcar, por dentro é carne e que se comido frio também é gostoso... (Explicando assim, confesso que parece estranho mesmo, mas ô trem bom!)
Mas recentemente aconteceu comigo algo muito maior que essa saudade cotidiana. Quem viu Ratatouille vai saber do que estou falando: perspectiva.
Na cena do filme um determinado personagem come um prato que o remete imediatamente a uma cena da infância que o faz sentir saudade e nostalgia, o que logo o leva às lágrimas (e aos telespectadores mais sensíveis como a que vos fala também...).
Eu adorei a cena, mas nunca havia sentido isso até que ganhei de presente umas pipocas Karintó (aqui em Brasília só tem da doce e é de outra marca: Bokus).
Pois bem, sem imaginar os efeitos que aquelas singelas pipocas que em minha terra valem míseros centavos exerceriam sobre mim, abri logo o pacotão e tirei uma de dentro.
As primeiras pipocas ainda se desmanchavam em minha boca quando eu simplesmente comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. Foi um sentimento que me tomou tão rapidamente que nem tive tempo de me preparar para o que viria: imediatamente o cheiro e o som do intervalo das Damas (minha escola) estavam bem ali, na minha frente. Eu vi minhas amigas Polly, Rhafa, Herllange, Isabelly, Jéssica, todas de farda (uniforme) azul rindo pra mim e milhares de mãos atacando um único pacote de pipoca cujo cheiro não nos deixaria até o final da sexta aula... Eu estive lá de novo.
Naquela época, a pipoca não durava muito e custava trinta centavos. Hoje é eterna e não tem preço.
Queria que vocês pudessem sentir isso também...