Passou longos segundos contemplando o invisível a formar o visível. Lembrou-se de algo sagrado, talvez Deus, Amor, ou algum conceito difícil assim que um dia tentaram lhe explicar, e não sabe bem se entendeu.
A menina ajeitou-se sobre o banco da praça, pegou sua varinha vermelha de ponta arredondada e mergulhou dentro da solução de água e sabão. Puxou-o de volta e deu um longo suspiro puxando o ar para dentro de seus pulmões. Tudo dependia daquele momento. Preparou seu melhor biquinho de assobio, fechou os olhos e soprou tão suave quanto seus melhores sonhos podem ser... E deste sopro se formou uma enorme bola de sabão que com lentidão se desprendeu da ponta da varinha.
Uma alquimia secreta que resultava em um instante suspenso... A perfeição frágil ia se transmutando em várias cores, talvez seguindo os pensamentos que foram soprados para dentro dela. Cores de arco-íres em dias de sol... Contemplou por segundos intermináveis que planavam tal qual essa euforia estéril e volátil alojada em algum lugar entre a ponta dos cabelos e os dedos dos pés.
Vibrava ao sabor do vento, e a temeridade do fim agitava a alegria sem motivo que sentia, e por vezes se temia que seu mero respirar fosse a pequena agulha a estourar sua felicidade sem razão.
Passou um homem jovem pela calçada com os olhos a catar razões pela calçada. Olhou incrédulo para aquele momento suspenso pelo tempo. Espetou de realidade a bola de sabão que se desfez.
E a garota apenas sorriu.
O homem apenas pôs outro passo no caminho.