Notas: Esse texto é daqueles da modalidade "what *@#%#!%*", pois apareceu inteirinho às 4:00 da manhã de uma terça-feira comum. Não custa adicionar a informação que não é biográfico, e que bem que eu queria que fosse mais suave, mas não era... Então "sorry"... Vai sair assim mesmo.
Na verdade a história era bem maior, mas temos de convir que foi o que deu para fazer de melhor na adaptação para texto curto às quatro da matina escrevendo no monitor do bloco de notas do celular! rssss (Saudades do tempo que eu rabiscava em folhas de papel com letra ilegível e jogava debaixo do travesseiro ou da cama e só ia encontrar no dia seguinte! Maldita tecnologia! rsss)
Tem outra coisa. Favor escutar ao som de Mil Pasos de Soha. Simples assim. E cumpre ainda esclarecer que a trilha veio depois de escrito mas nunca vi tão perfeita! Então adaptei algumas coisas no texto para casar legal. Então a trilha virou indissociável.
Imagem:http://www.deviantart.com/art/E-Lovers-7376197
Trilha: https://www.youtube.com/watch?v=dm_TzKprOls
Passos...
Acordou no meio
da noite suado... Em um sobressalto incomum ao sono pesado da sua diária
exaustão habitual. Ainda estava em sua mesa, sentado na sua enorme cadeira de
trabalho. O nó da gravata parcialmente desfeito. A tela do computador ainda
ligada indicando que havia se deixado adormecer com as tarefas inconclusas que
nem sequer lembrava exatamente quais eram tamanho o torpor do sono que lhe
abateu. Olhou ainda atordoado ao redor e se viu, felizmente, sozinho em sua
sala, com seu sexo ainda pulsando, coração aos pulos e o cheiro dela dentro das
narinas sem que ele conseguisse explicar a si mesmo como poderia estar
impregnado dela sem que ela estivesse ali.
Esfregou os
olhos e segurou forte a cabeça entre as mãos tentando se sentir real. Queria
devolver a si mesmo um tanto de sanidade. Coisa que tinha de convir que lhe
faltava já há alguns dias, para ser mais preciso, desde que havia sido invadido
por “ela” sonho à dentro. Não havia uma só noite que ela não o assaltasse e que
ele fosse maltratado pela constância e pela inconstância de viver o irreal. Ou
seria real de alguma maneira? Não queria admitir para si que pensava nessa
hipótese. Seria insanidade demais para ser ignorada por sua racionalidade. Mas
fato é que repentina e sorrateira entrava na sua cabeça de forma tão palpável que
conseguia sentir a maciez de suas carnes entre seus dedos mesmo depois de
acordar. Mal conseguia piscar depois de despertar sem que o gosto dela não lhe
voltasse à boca e isso lhe exasperava. “Como?!”
Tentava em vão
se convencer que se tratava apenas de sonhos fantasiosos fortalecidos pelo
forçoso celibato temporário imposto pelos afazeres profissionais. E na busca lógica
e coerente de um motivo, ainda se questionava em o porquê, sua mente,
obviamente queixosa de atividade real, havia escolhido exatamente “ela” para
esse jogo inconsciente que lhe supria os desejos, mesmo que mentais. “Por que
ela?!”
Afrouxou um
pouco mais do nó da gravata e se deixou cair absorto em deduções vãs sobre os
motivos ocultos disso e daquilo de forma controlada e conformada, enquanto o
coração voltava a bater no compasso normal, e o volume entre suas calças
sossegava queixosamente aos poucos.
As olheiras
eram fartas sobre os olhos. Vivia essa tortura noturna diária há quase um mês.
Perdeu peso. Era bem aparente. Culpava o excesso de trabalho por essa loucura. Na
maioria das noites relutava em dormir. Inventava tarefas a mais para não
adormecer. Temia pela sensação enlouquecedora de desejar um sonho. De passar o
dia inteiro revivendo os detalhes vívidos de alguém que sequer existia. De surpreender
a si mesmo elaborando os beijos que daria mais tarde quando... Dormisse!
Tinha certeza
que iria acabar por enlouquecer ou se render a alguma prescrição de opióides
pesados. Era o que pensava enquanto arrastava-se até a cama chutando sapatos e
abandonando o terno no chão antes de se deixar abater pelo sono novamente,
temendo e ao mesmo tempo desejando que ela novamente o visitasse. Adormeceu de
dedos crispados no lençol como se quisesse arrancá-la de sua mente e trazê-la
para sua cama, segurando forte para
nunca mais a deixar partir desse mundo real.
*** *** ***
Estava tão frio
lá fora que seus lábios tremiam azulados quando terminou de vestir aquele
vestido vermelho, com meias de renda que lhe marcavam as coxas. O vento gelado lambia o corte profundo do seu vestido nas costas lhe causando um arrepiar dolorido. Mas não se
importava. Havia remontado cada detalhe necessário para sua noite. Meteu-se
ligeira embaixo do seu grosso edredom, sem esquecer-se de deixar a janela
ligeiramente aberta para que o barulho da chuva lhe embalasse rumo ao sonhos. Aqueles
sonhos. Os seus. E tinha certeza que em algum lugar no mundo eram os dele. Nutria não só sensações, mas acumulava cada noite a certeza absurda dessa existência em dois planos distintos.
Havia cultivado
o recente hábito de abraçar um travesseiro para dormir se deixando escorregar
em um aconchego confortável criado pelo seu enorme cobertor. Tudo na ordem exata
em que estava na primeira noite na qual ele veio povoar sua cabeça.
Estava realmente exausta, mas absurdamente
ansiosa. Geralmente acordava muito mais cansada do que quando ia dormir, mas
era certamente a melhor sensação que experimentava já há mais de um mês. O
resto das horas eram apenas um amontoado de minutos redundantes, tarefas sem importância em
branco e preto.
Já era certo
que encontraria exatamente o que desejava se seguisse todo o padrão daquela
preparação diária antes de dormir. Vestido, meias, janela entreaberta.
Revisitava cada detalhe no quarto e quando satisfeita da exatidão fechava os
olhos. Suas mãos apertaram ainda mais o
travesseiro quando se sentiu escorregar dentro do torpor e adormeceu sorrindo.
Logo ele veio.
Abriu a porta calmamente e lhe olhou dentro dos olhos. Sem lhe dirigir uma
única palavra deus três passos lentos até seu encontro. Seus cabelos estavam em
total desordem. O nó da gravata parcialmente defeito. O som oco dos seus passos marcou o
compasso da respiração dela. Não conseguia tirar seus olhos dos dele, muito
menos fugir dos lábios que tanto deseja. Quando finalmente parou em sua frente,
tremeu inteira, lhe fugindo as forças das pernas quando se deixou envolver por
seus braços. Ele parecia impaciente desta vez quando lhe puxou grosseiramente
para junto do corpo dele, consumido por um desejo que era comum igualmente a
ela. Via as linhas de tristeza marcadas em seu rosto, mas mesmo assim, deixou que ele explorasse sua boca pela língua doce dele, pois esse era o sinal. O símbolo da conexão nesse encontro, quando ambos sentiam a realidade dentro do sonho. Mas foi só quando ele
deslizou a mão por entre a suas pernas que deixou escapar um gemido abafado.
Ela precisava cuidar dele, sabia disso. Empurrou-o até o sofá que estava do lado direito
naquele ambiente vazio e nebuloso. Ele apenas aceitou seus comandos, rendido de
excitação e obediente ao desejo. Levantou o vestido sentando-se sobre suas
pernas, frente a frente com os olhos mais profundos que já viu. Beijava seu
pescoço e suas orelhas, mordiscando lentamente, torturando-o de desejo, sentia
fisicamente seu respirar no seu pescoço e isso lhe dispersava o pensamento, já
que sabia, conscientemente, que estava sonhando.
Seu corpo e o
dele já conheciam os caminhos certos um do outro, mesmo que apenas nesse
terreno inconcreto dos sonhos. Enquanto ela se dedicava a beijá-lo inteiro, como
se tentasse curar as feridas de ter de partir rumo ao real assim que aquele
momento surreal acabasse, ele se
consumia na vã tentativa de controlar seu desejo, o que obviamente, noite após
noite ele fracassava. Seu sexo ereto e quase incontido roçava pela calça
eriçando-a cada vez mais. Caminho sem volta da sensatez. Ele a tocava de uma
maneira particular. Só dele. Ela imaginava-se como a um violão em seu colo,
sendo dedilhada em uma melodia que apenas eles dois poderiam tocar. E essa
ilusão a fazia inclinar-se e moldar-se ao corpo dele como tal.
Essa música em
particular ele sabia tocar. Perdido nas notas do corpo dela apertava-lhe o
quadril e lhe machucava a boca de avidez, de cansaço e consumição. “Como querer
o invisível?”
Deixou que ela
abrisse o cinto e o zíper e lhe guiasse. Ainda ensaiou um ‘não’ que nem sequer saiu de sua boca. Ofegava vários ‘sim’. Transpirava vários ‘sim’. Mas foi quando ela lhe agarrou por
dentro da calça que ele desistiu de se conter. Sussurrava no ouvido dela repetidamente como
se fosse o refrão de sua música: "O que queres de mi?! O que queres de mi,
hã?!" E deslizava para dentro dela gemendo baixinho, mordendo-lhe a orelha
e seu brinco, lambendo cada centímetro do seu pescoço e ela o dele. Ela nutria
especial dedicação à boca de lábios volumosos e vermelhos, sempre macios e
úmidos, que a faziam se perder em desejo, os olhando e beijando detidamente
enquanto cavalgava de forma ritmada sobre ele. Gostava de vê-lo revirar os
olhos de prazer incontido e indefeso, e ele nesse transe insano de sensações
termina por lhe desferir uma mordida forte nos lábios e tirar-lhe um pouco de
sangue, puxa-lhe os cabelos com os dedos trançados em sua nuca enquanto aumenta
o ritmo dos dois. E ela toca a música que ele quer ouvir. Ela ofega no ritmo
que ele quer escutar. Até seus pequenos gemidos são o tom perfeito. E ele a
desafia com os olhos. Ele sabe que ao gozar o mundo dos sonhos se acabará, e
que ela irá se desfazer, retornando ambos ao mundo real, onde ela não o conhece nem
sabe onde ele está, e que ele não pode lhe buscar e nem seu nome sabe. Ele sussurra em seu ouvido "no se vaya, cariño mio..." Mas não conseguem mais segurar e adiar o momento que o
prazer se sobrepõe ao desejo de continuarem imersos no ambiente desse sonho que
lhe permitem estar juntos. E ela se sente invadir pelo gozo dele que lhe faz
gozar logo em seguida. Abraça-se ao corpo dele e os dois se deixam tragar pela
tristeza da separação e a incerteza de que se encontrarão novamente.
Logo ela
acorda. Banhada de suor, com o lábio inferior machucado, e molhada de prazer.
Suas mãos instintivamente abraçam mais forte o travesseiro que morde com força
para se sentir acordada e ao mesmo tempo para expressar a frustração por ter
despertado e estar sem ele. Não sabe quanto tempo mais saberá conviver com a sensação
do seu corpo e de sua pele ainda vivas e presentes como se ele tivesse acabado
de levantar e sair de sua cama. Mesmo assim sorri pensando que o dia é só um
conjunto de horas como degraus que lhe levarão até ele essa noite. Alguns
passos. Mil passos que sejam.