Tento pensar por onde começar
para refazer o mesmo caminho, e não sei onde por os pés. É como andar olhando
por um retrovisor e depois engatar a marcha ré. Sinto
que cada vestígio se esvai sem que eu possa reter. E tento voltar, catar cada
migalha de você que ainda tenho em mim para ficar em paz com o que não foi.
Não creio em lembranças nem em
suspiros. Assim como nunca acreditei em viver esse tempo atrasado e demorado,
que se afoga premeditadamente em ponteiros arrastados, viciados em ouvir tua
voz.
E passo os minutos olhando o teto
e aquela goteira velha que pinga no balde azul que tento tão esmeradamente
posicionar no chão, mirando suas recordações infiltradas, aquelas as quais nego
e que se repetem ritmadamente.
Sei que não seria eu que deveria
falar de amor, muito menos de destino, se tirei das mãos do acaso o caso de nós
dois quanto te disse e quando calei. Não deveria acreditar em senões nem em promessas de copo de vinho.
Estou atado na minha teimosia, preso na insistência do fracasso de um quase
amor só por não saber ser só, só por não saber ser eu sem você. Só sei dizer
que vai chover e que aquela goteira ainda vai continuar a pingar. Sei dizer
onde estão teus sapatos e as chaves do carro, mas não onde escondeu essa
felicidade toda que agora me assalta e me assombra.
Já quis pintar as paredes da
sala, e quis dizer adeus. Mas lembro do teu dia azul e do teu cheiro amargo e
só consigo voltar. Só posso rodar e rodar e parar no mesmo ponto onde pedi para
não ir, e pedi para não dizer. E depois para você vir. Mas aporta não se abriu,
e só aquele vento sul entrou pela janela, sacodiu a toalha da mesa e se foi, carregando uma gota para fora do
balde e um pensamento cheio de você para fora da minha boca.