terça-feira, novembro 22, 2011

A Cena

Depois de muito, muito (MUITO) tempo depois, eis que retorna ao Brincos o projeto cruzado de escrita entre o meu amigo Hecton e eu. Dessa vez assistimos a mesma cena e dela partimos para o desconhecido! 

Entre o concreto e o cinza, meu pensamento se dissipa entre um tom e outro. Queria poder, bem de longe, imaginar, ou melhor, entender o que você está pensando agora.

Ainda não sabia para onde deveria ir. E até estranhava esse pensamento do “dever” ir, essa obrigatoriedade estranha depois de tudo que vivi nos últimos dias. Os caminhos são iguais, as pessoas são iguais. E imaginava encontros ansiosos das mais variadas maneiras entre todos os personagens que me cercavam, mas eu não cabia em nenhuma das cenas, não cabia em nenhum dos abraços. Não pertencia nem sequer a mim mesma.
Mesmo assim caminhava envolta nesses pensamentos que me arremessavam do passado diretamente para um futuro cinza, sem parada que justificasse esse presente, e por isso pisava com toda a força dos meus pés nesse caminho sem rumo, como se para sentir minha existência pelo próprio peso, sentindo o ressoar de meus passos dentro do meu peito aberto, escancarado. Pegadas imaginárias sobre o concreto, era o que precisava seguir.
A bolsa começa a pesar-me pendente na mão direita. Tentei lembrar o que estava levando dentro dela, e se algo mereceria realmente ser carregado. Um batom vermelho, papéis amassados, algum dinheiro e um cartão dele escrito com sua letra, apenas as iniciais. Não era preciso nada mais. Só aquelas iniciais.

Não que os sons das curvas sejam mais altos do o que ouvi de você há alguns dias. Mas por ter certeza que precisava correr de encontro a você para sentir isso. 

Enquanto passavam por mim os reflexos de imagens que não entendia, e até o ar me faltava, tentei te encontrar entre tantos rostos iguais e diferentes.
Penso ser um eco de meus desejos ou a loucura já habitando meus pensamentos. Minha lembrança insistente e incoerente que o quer de volta ali, ao meu lado, pondo passos no caminho, contando polegadas ou milhas, não importaria, apenas queria que realmente fosse ele. Mas escutei novamente chamarem-me. E é ele. Sorrindo sem sorriso. Parado e resgatando-me de dentro dos meus próprios olhos. 

Talvez o calor do seu corpo seja o bastante pra mim. Nada além do que esperava, enquanto o taxímetro girava... E a paixão se estagnava. E em um minuto, ao sentir o vermelho dos seus lábios, o tempo se rasgou entre o antes e depois desse segundo...

Aquele abraço que imaginei segundos antes de tantos encontros alheios agora era seu. E não sei bem porque me doeu tanto. Todos os ossos do corpo, cada músculo se entregou a uma dor extrema, mas mesmo sendo dor, era perfeito, e era tudo que gostaria de estar sentindo naquele momento. E ele beijou-me. Como se quisesse dizer tudo o que nunca poderia ser dito ou explicado. Depois me devolveu àquele lugar. Pôs-me em pé sobre as minhas pernas e pés, e ao redor voltei a ouvir o barulho da rua e a conversa inteligível das pessoas. Distanciava-se sem ter coragem de dizer adeus. Não seria necessário, pois eu sabia que ele estaria para sempre em mim.

E se tivesse durado mais... Mais que esses instantes não seria tão perfeito quanto o gosto dos seus lábios...