Sentia-se tragado. Sem já sem forças de procurar resistência em outros pensamentos que não fossem aquela imagem do absurdo e da completa coerência, da pele ligeiramente arrepiada, e aquele ponto negro em um mar branco, pintado atrevido no seio esquerdo dela.
Equilibrava sua vida apenas sobre ele, um sinal apenas, e deixando-se mover pelo ritmo do respirar dela, abandonando-se suspenso em sonhos pairando no teto daquele apartamento.
Já nem lembrava exatamente a quanto tempo estava contemplando aquele ponto negro. O tempo não era exatamente algo que o preocupasse, na realidade o que mais impressionava era o quanto um simples ponto o absorvia de maneira arrebatada e ao mesmo tempo ausente. O quanto lhe contava a história de ninguém ou do mundo inteiro.
Quando ela calçou seus sapados pisando na contramão dos antigos passos ele soube que aquele igualmente tinha sido um ponto. Um final. E só pensava no negro sinal pontuando uma frase de despedida qualquer que ela não disse.
E se abandonasse esse ponto e pensasse em retas? Não passaria uma infinitude de pontos. Ainda poderia deslizar o dedo indicador sobre a sua pele absorto pelo ponto, o único que não termina, o único que lhe cabe.
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