A surpresa é melhor quando vem do lado mais inesperado. Hoje minha diarista me ensinou uma forma de discurso indireto eufemístico muito mais genial do que o tradicional ‘o gato subiu no telhado.’
Nunca a vejo, apenas chego e me deparo com a casa limpinha e organizada e aquela folhinha azul grudada no ímã da geladeira: “falta veja”. Compro o item e deixo pra ela outro bilhetinho azul: “falta limpar o filtro do ar condicionado.” E assim vamos seguindo à perfeição: na nossa relação, não falta nada...
Mas hoje me deparei com um bilhete diferente: “SUAS TAÇAS QUEBRARAM ...” Simples assim.
Percebam. Não existe forma melhor de dar a notícia. Além de tirar completamente a responsabilidade dela pelo ‘acidente’, dá um certo ar de que ela até tentou evitar, mas nada poderia ser feito diante da decisão resoluta e irreversível de minhas taças: elas queriam quebrar.
Resignada, no lugar de ficar com raiva da Fátima, reconheci sua esperteza e resolvi aprender com ela e compartilhar seus preciosos ensinamentos com a blogosfera... Os três pontinhos no final da sentença têm o papel fundamental de dar o tom de caso fortuito essencial para que ninguém mais questione a fatalidade. E pensei nas inúmeras situações em que esse discurso indireto poderia ser útil. Mais ou menos assim:
Ronaldinho e os travestis: - As prostitutas se travestiram...
Nardoni falando pra polícia: - A menina se morreu....
Dilma e o dossiê: - O dossiê se escreveu e se vazou...
Qualquer um para o chefe: - O relatório não se aprontou...
Qualquer um atrasado: - A hora se apressou....
Lula e o terceiro mandato: - A Constituição se mudou...
E por aí vai. Não é preciso muita criatividade, só cara de pau.
quarta-feira, abril 30, 2008
Aprendendo a dar desculpas...
Bailarina
Sairia no final do expediente e encontraria uma árvore convidativa no meio de algum canteiro solitário e a escalaria, tal qual nos tempos de criança. (Mesmo sem lembrar de haver feito isso nesse tempo, e tão pouco tem alguma reminiscência concreta de haver sido criança. Crê que nasceu de calças de pregas e sapato social...).
Talvez nunca houvesse realizado tal feito realmente, mas guardava algum tipo de sensação saudosista imaginária de um feito heróico e desafiador de limites, ao chegar ao topo de uma enorme árvore de um jardim igualmente imaginário, enquanto uma platéia invejosa espiava com o olhar esticado para lhe alcançar. E era só isso que queria: não ser alcançado.
Pensou o quanto soaria ridículo ao confessar a alguém uma decisão que parecia tão inadequada de dentro do seu nó duplo de gravata. Subir uma árvore, sem razão aparente, racional e dedutível no imposto de renda... Isso o torna tão sonhador quanto àqueles a quem devora no café da manhã todos os dias.
Tinha medo.
Porque nunca poderia desabotoar a camisa italiana, livrar-se do terno inglês e abandonar-se a um mundo sem pátria em um galho de figueira florida... E lá do alto, poderia dizer sem que ninguém ouvisse. Desse topo poderia confessar sem testemunhas a falta que lhe faz apenas não ser.
Quer dançar a sua dança, levado por aqueles galhos, que poderiam ser seus braços, colando o corpo aquele tronco e abandonar-se por se saber achado. O colarinho não aprisiona palavras doces, nem tão pouco o esconde das paixões e desse arrebatamento que o persegue sem cessar.
Árvore bailarina, gingando no ritmo da brisa.
quinta-feira, abril 17, 2008
Brincos, batons e fraudas!
Fomos negligentes!
Ah, nem adianta careta, pezinhos nervosos batendo no chão...
Fomos negligentes sim!
Pronto!
Findo os protestos agora a explicação:
Depois do texto de 13 de maio de 2007 um longo caminho se passou e a nossa querida amiga que vinha tendo que escutar as mais diversas receitas para engravidar (E depois ela divulga a receita campeã!) engravidou e não só isso, já está com 8 meses! E esse post do Brincos foi pelo medo do pimpolho vir ao mundo sem que aqui fique registrado toda a “caduquice”das tias aqui do blog que estão doidinhas para ver o seu rostinho e só não tricotaram sapatinhos porque essa coisa de agulhas é muito complexa!
Esta tia babona em específico até já sonhou que o Gabriel já tinha nascido e que na maternidade mesmo eu o colocava no colo e lhe explicava o mundo todo! (Por favor não estou tomando nada hein!)
Detalhes da gravidez? A mamãe lê toneladas de informações úteis e inúteis e o seu livro de cabeceira agora se chama: “Bebês: Manual do Proprietário”...
Anda assistindo vídeos de partos na internet e pondo o pai do baby para aprender a dar banho, trocar fraudas...
Está com a pele ótima e tranquilíssima ao contrário de todos que a cercam que estão ansiosissímos! (E isso me inclui!)
Então fica aqui o registro (E espero que em tempo! Ainda não nasceu né? Brincadeirinha...).
segunda-feira, abril 14, 2008
Nunca fui de Câncer...
Apesar de meu (im)popular ceticismo, confesso que na adolescência li horóscopo algumas vezes. Como resistir àquela pergunta em letras garrafais: "Seu signo combina com o dele?" Começo de namoro, insegurança, ninguém escapa a uma olhadela, quem pode jogar a primeira pedra? Mas em seguida vinha a decepção, meu signo e eu nunca pegamos uma letra.... Nenhuma previsãozinha sequer, nada. E olha que às vezes eu queria acreditar...
Anos se passaram e esse assunto para mim foi se tornando cada vez mais bizarro. Algo tão estranho como videntes que prevêem o futuro através de rãzinhas amarradinhas dentro de ovo de galinha (amiga Mimi, me perdoe, mas é bizarro!). Mas como qualquer terráqueo, nunca escapei de comentários do tipo: - Nossa, tão dorminhoca, você é de libra? - Que perfeccionismo, é de capricórnio? - Tão conversadeira, tenho certeza que é de gêmeos.... Para mim, esses raciocínios seguem tanto a lógica quanto: - Hum, pinta as unhas de vermelho... aposto que gosta de sorvete de umbu...
Pois bem. Já devo ter dito que no meu trabalho faço diariamente um exercício de tolerância. No começo foi difícil, mas hoje confesso que adoro, participar por alguns minutos por dia de mundos tão diferentes do meu é quase como viajar e é de graça.... Bom, aí uma amiga que faz mapa astral ficava indignada com a minha incredulidade no mundo da astrologia e se dispôs a fazer o meu. Lá fui eu com dia, hora, minutos e local de nascimento. Ela me vem com a bombástica revelação: "- Você nunca foi de Câncer, você é leonina. Nasceu no dia de transição do signo e o sol já estava em Leão na hora que você nasceu." E ela ainda acrescentou em tom de revelação: "- Eu sempre soube que tinha algo errado..."
Gente, calma! Explico. O que define seu signo é em que casa o sol está na hora que você nasce. Aquelas datas que vemos nas revistas, segundo minha amiga astróloga, são aproximações. O que quer dizer que qualquer pessoa que nasceu no momento de transição de um signo pro outro pode a vida inteira ter lido o horóscopo alheio...
E o que isso alterou em minha vida? Well, apesar da falsa sensação de tempo perdido na adolescência (mesmo porque ler o signo certo não me daria hoje a sensação de ter feito melhor uso do meu tempo....), foi como descobrir que na minha vida passada eu gostava de plantar bananeira.
Mas, minha amiga Mimi, que acredita em entidades absolutamente incompatíveis como todo bom brasileiro católico não praticante e simpatizante do espiritismo mas que acha lindo os cultos evangélicos, resumiu o que eu deveria estar sentindo: - Meu Deus! É como descobrir na fase adulta que é filho adotivo!
Eu só sei que Câncer é água e Leão é fogo, e dessa mudança eu gostei. Pero que las hay, las hay...
Imagem: Dana - (Aparentemente, A Deusa do signo de Câncer)
quarta-feira, abril 09, 2008
Folhas de Outono
Uma agonia cansada, repetitiva.
E eu só gostaria saber o que dizer.
Porque ainda não sei.
O estômago se contorce e eu não sei.
Vago pela casa contando passos, colocando vírgulas em pensamentos e eu ainda não sei.
Perco o sono e olho pela janela outras vidinhas e não sei.
Adormeço e em sonhos brancos e não sei.
Bebo um tanto de goles de qualquer bebida amarga e apenas não sei.
Não sei por não querer. Não sei por querer.
E por saber que sei.
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