Em uma tediosa e monocórdica aula anos atrás disse o professor de biologia, sem qualquer expectativa de que as cabecinhas viajantes de seus alunos fossem gravar qualquer daquelas informações, que:
“As borboletas e as mariposas são insetos da ordem Lepidóptera. Na Europa, porém, mariposa é um sinónimo de borboleta, mas no Brasil é a designação comum dos insectos lepidópteros noturnos ou crepusculares, insetos que lá são mais comumente conhecidos como traça”.
Essas palavras adormecidas na memória inócua de estudante relapsa voltaram debatendo-se ao escutar o som oco das batidas insistentes na lâmpada da sala. Passos sonolentos me tiram do quarto em direção ao som obstinado da tentativa daquela mariposa de fundir-se com a luz.
Parei logo abaixo da lâmpada esfregando os olhos tentando espantar as sombras de sono enquanto via as inúmeras voltas que dava, novos mergulhos suicidas, som oco, e voltas e voltas, e mergulhos. Acho que cheguei a sentir dor. Acho que pena. Ou talvez raiva...
Vilã marrom noturna, borboleta sem vontade se ser, sem o volitar suave e etéreo da prima rica... Abri a janela sentindo o frio da noite a me esfaquear, pensando que assim daria a chance de que ela fosse ao encontro a um destino menos doloroso do que um fatigado fim sem começo. Nada. Continuei observando sua vontade obstinada de se fundir à luz com a beleza das tentativas estéreis. Lembrei de você meu bem... E do quanto me faz crer na sua essencialidade, e do quanto assisto seus mergulhos e a beleza da sua tristeza insistente.
E se te abro uma janela?
(Créditos da ilustração: http://biagiosa.deviantart.com/)