E não dou a mínima para quem estiver se estrebuchado na cadeira achando minha afirmação um absurdo! Quero mais é que a civilização toda vá para... Não bastaram às notas baixas no colégio? Não... Eles têm que vir me assombrar o resto da vida? Meus motivos são simples e justos e tenho certeza que ninguém vai me olhar torto... Tinham que inventar os primórdios da cera quente ao misturar sândalo, argila e mel de abelha? Viu só? Civilização maléfica!
Mas mesmo odiando os Egípcios resolvi encarar todo o medo (provavelmente gerado pelas caras retorcidas das minhas amigas ao falarem do assunto...) e fui.
Assim, peito aberto.
Achando que essa era mais uma das lendas urbanas femininas do tipo “pentear o cabelo de cabeça para baixo cresce mais” ou “tamanho não é documento”, e “compre a calça jeans um número menor que depois cede”...
A placa era bastante elucidativa. “TEMOS DEPILAÇÃO COM CERA QUENTE”. Na foto umas pernas lindíssimas, torneadas e lisinhas, lisinhas. Pronto, quem não quer essa maravilha da evolução humana? Tá, tudo bem que não eram exatamente as pernas que eu queria depilar, mas não pode ser tão ruim, né?
Na sala de espera várias revistas sorridentes do mês passado discutindo as relações alheias, babando pela solteirice de Gianecchini (!), e um som ambiente agradabilíssimo. Tudo de propósito para desviar as atenções dos grunidos que vinham de dentro da famigerada sala...
As mulheres ao meu lado na sala de espera todas muito seguras de si, folheando sonoramente as pilhas de revistas, já as que saiam da portinha branquinha e inocente (uma inclusive com as pernas meio abertas e cara de dor...) me faziam começar a desconfiar que quebrar minha “virgindade de cera quente” havia sido uma má idéia.
Só faltava mais uma pessoa na minha frente e depois já era a minha vez. Hoje, e principalmente naquele dia, quis ser uma pessoa mais prática, decidida... Quis conseguir simplesmente pensar: “Vou embora” e levantar ao invés de viajar em elucubrações e terminar o pensamento lá no Taiti, que era exatamente onde estava minha cabeça quando a atendente disse: “Senhora? Sua vez...” Tremi. Vou negar não! Mas só na hora que a mulher de 1,80 e cara de “Helga – A enfermeira Húngara” apareceu toda vestida de branco estalando dos dedos das mãos dizendo: “Vem!”.
Fechou a porta de chave atrás de mim e riu. Isso é mau sinal. Qualquer pessoa mais prudente teria dado as costas e ido embora nesse momento. Mas não, veja só... Alguém ai aposta no que eu estava pensando??? No filme do Schwarzenegger. Nisso “Helga” me manda tirar a roupa... Assim, sem preliminares, sem beijinho no pescoço nem nada! (brincadeirinha gente!). E eu que devia ter fumado um maço de coentros obedeci! Ai pronto! A desgraça estava feita...
“Cantinho e axilas é ‘bem’ ?!”
Lá estava eu deitada na maca pensando que as Gregas em 2000 a.C arrancavam, os pêlos com as próprias mãos ou optavam por queimá-los com cinzas quentes sobre a pele, mas como a dor era muita (precisava nem dizer!), enchiam a cara antes para servir de anestesia. Cadê meu Whisky, pô?
“Vamos começar por onde?” Perguntei simpática, (mas com a voz tremida, como não???) e “Helga” meigamente disse: “Por onde dói mais ‘bem’, porque depois que eu der a primeira ‘puxada’ daí você não corre mais, porque pior não fica!”. Ninguém pode negar que a mulher tem muita psicologia, não é?
Não obstante, ela manda que eu levante a perna o mais alto que puder... Ou seja... Não vou nem descrever que os pontos visualizados por ‘Helga’, provavelmente, nem meu doce e amado (hoje eu digo! ) ginecologista jamais viu! Ô situação esdrúxula!
‘Helga’ vem em minha direção com o papelzinho na mão e grudou a cera com firmeza, enquanto eu tento fechar os olhos (De olhos fechados dói menos?).
Bem que eu podia ter batido o carro antes de chegar aqui, ou aparecido um imprevisto inadiável, lindo e maravilhoso... Bem o que o Rick Martin podia aparecer na porta e ‘Helga’ iria correr para os seus braços... Ou a musiquinha do Plantão do Jornal da Globo tocar e quando ela virasse perguntando “ Ai meu Deus! quem morreu?”Eu saltaria da maca em um Duplo Twist Carpado e fugiria dali. Ou bem que... E foi nessa hora que vi as Muralhas da China, e que passei pela Ilhas Fiji, a Torre Eiffel, os canais de Veneza, e que vi os corais submersos dos mares do Pacífico, além de ver as malditas Pirâmides do Egito (que no final são até simpáticas!).
E voltei ao meu corpo dolorido e arrependido, enquanto ‘Helga’ satisfeita exibia o papelzinho arrancado, juntamente com meus pêlos, minha dignidade e um restinho do juízo que me sobrava, e tal qual o Sansão da Dalila, provavelmente iria se esvair até o final daquela minha apresentação as ‘maravilhas’ da cera quente.
Pois é, eu odeio os Egípcios...