Conversas Banais de Elevador.
Sexto andar.
Sacudidela no estômago, blin-blons e ela entrou.
Botão freneticamente apertado para informar a pressa inútil ao elevador. A porta finalmente abre no sexto andar, e distraído estava ele.
Entra com passos macios e se posiciona ao seu lado. Um cheiro de almíscar. Açucarado. Batom suave e olhos fixos na porta que acabou de se fechar.
Pretende o anonimato da memória sempre deserta. De soslaio mede o corpo ao seu lado.
Quinto andar.
Deseja um martelo e a força. Ensaia mentalmente alguma frase de efeito. Sempre almíscar e aqueles pés brancos moldurados pelas sandálias...
Quem sabe diga uma “boa tarde”. Não. Jamais.
- “Boa tarde”
Voz conhecida, e o “boa tarde” de sempre a lhe espetar.
- “Boa tarde. Fazia muito tempo que não lhe via. Está igualzinha”.
Soco direto de esquerda.
Quarto andar.
Nunca reparou nela realmente. Tom irônico eterno.
- “Três anos e você também me parece igual”
- “Está bonita, o que tem feito?”.
- “Uma coisa aqui, outra ali. Sabia que casei? Estou grávida. Dois meses. Acho que é um menino...”
Olhou ternamente sua barriga. Sentia um gosto de passado na boca. Amargo. Eterno. Finalmente viu seus olhos brilhantes de futuro e pisou no abismo do presente. Entreviu cheio de um remorso sádico o que havia deixado adormecido no universo paralelo das possibilidades. Segurou seu queixo. Perdeu-se nos pensamentos do beijo que daria...
Sentiu o tocar dos lábios dele antes que a tocasse. Distância de um suspiro. Suas curvas e seus “ais”.
Tão suave quanto lembrava, fechou os olhos como se dor sentisse e o beijou.
Terceiro...
Segundo...
Primeiro...
Térreo...
Nova sacudidela no estômago. Olhos abertos, dedos fechados e um adeus de “nunca mais”.